sábado, 4 de dezembro de 2021

REVISITAÇÃO DE POEMAS DE NATAL


Chama, Se Natal

Se o Natal fosse a luz, uma flor a romper

A escuridão do tempo.

Um cerco (múltiplos) dedos negros

De cinza, a alma negra

Do fumo que se espalha, e alarga, e estreita as coisas,

Prendendo o horizonte, E não

há praia assim.

 

E tu falas de longe como um anjo

Dos caminhos que vão calar a morte.

Por eles, volto a Belém com a estrela, e não há berço,

Só um cão pedindo os nossos passos.

Vogo em Veneza a estagnação dos dias

Nas águas rosadas do poente

Desde Setembro, o mais cruel dos meses,

E sinto o mar do Sul, a sua ausência

Na terra do meu corpo, devastada.

 

A tempestade canta nas máquinas. Lavram

Os anúncios da paz.

 

Natal, a chama

Que vai trazer-me as horas

De respirar com todos na cidade

Em água iluminada, e esse chão branco, sabes,

Onde a neve é um sol.

 

Chamo o Natal e estou aqui à espera

De despertar mais logo

À flor do lago.

 

Maria Alzira Seixo em Natal… Natais

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