Dito
já que começaram as iniciativas que visam
registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei
pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um
parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo
dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam
a Biblioteca da Casa.
Hoje pegámos no livro de Carlos Reis «Diálogos com José Saramago».
Escreveu Carlos Reis na apresentação do
livro:
«Em
finais de Janeiro de 1997, durante três dias e ao longo de quatro sessões de
trabalho, num total de cerca de sete horas, recolhidas em seis cassetes áudio,
mantive com o escritor José Saramago um intenso e sistemático conjunto de
diálogos.»
E ainda:
Os
Diálogos com José Saramago são do escritor, mais do que meus; a forma como fui
colocando as questões não expressa, contudo, uma pura e neutra indagação.»
A este livro voltaremos algumas vezes.
Hoje, porque o tempo de Natal vai
acontecendo, esta questão de Carlos Reis a José Saramago:
«Uma coisa que você disse agora – a poesia
como prólogo para o romance – leva-me a um poema seu, que é um poema muito
curioso, sobre o Natal, e que talvez tenha que ver com uma tendência que existe
na sua obra, sobretudo em relação a temas e a motivos religiosos, para uma
certa e às vezes agreste desmistificação. Você diz assim neste poema:
Nem aqui, nem agora. Vã promessa
Doutro calor e nova descoberta
Se desfaz sob a hora que anoitece.
Brilham lumes no céu? Sempre brilharam.
Dessa velha ilusão desenganemos:
É dia de Natal. Nada acontece.»
José Saramago
responde:
«Provavelmente também tem que ver com
experiências pessoais. Tenho na memória da minha infância que o Natal,
parecendo festa, não o era nunca: há uma tristeza nesses dias, há uma coisa
muito dura, que eu contei numa crónica que se chama o «Natal de há cem Anos»,
Nem Jesus nasceu nesse dia.»
Sem comentários:
Enviar um comentário