quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Hoje pegámos no livro de Carlos Reis «Diálogos com José Saramago».

Escreveu Carlos Reis na apresentação do livro:

«Em finais de Janeiro de 1997, durante três dias e ao longo de quatro sessões de trabalho, num total de cerca de sete horas, recolhidas em seis cassetes áudio, mantive com o escritor José Saramago um intenso e sistemático conjunto de diálogos.»

E ainda:

Os Diálogos com José Saramago são do escritor, mais do que meus; a forma como fui colocando as questões não expressa, contudo, uma pura e neutra indagação.»

A este livro voltaremos algumas vezes.

Hoje, porque o tempo de Natal vai acontecendo, esta questão de Carlos Reis a José Saramago:

«Uma coisa que você disse agora – a poesia como prólogo para o romance – leva-me a um poema seu, que é um poema muito curioso, sobre o Natal, e que talvez tenha que ver com uma tendência que existe na sua obra, sobretudo em relação a temas e a motivos religiosos, para uma certa e às vezes agreste desmistificação. Você diz assim neste poema:

Nem aqui, nem agora. Vã promessa
Doutro calor e nova descoberta
Se desfaz sob a hora que anoitece.
Brilham lumes no céu? Sempre brilharam.
Dessa velha ilusão desenganemos:
É dia de Natal. Nada acontece.»

José Saramago responde:

«Provavelmente também tem que ver com experiências pessoais. Tenho na memória da minha infância que o Natal, parecendo festa, não o era nunca: há uma tristeza nesses dias, há uma coisa muito dura, que eu contei numa crónica que se chama o «Natal de há cem Anos», Nem Jesus nasceu nesse dia.»

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