É quando ele diz a frase certa: um tipo só precisa de um café e de uma
boa cigarrada.
Ouve-se a frase no Johnny Guitar, um dos
filmes da vida de muita gente.
De João Bénard da Costa sabemos que era.
«Só
recordam aqueles que confidenciam, a recordação é uma arte que arranca da
solidão e do silêncio», escrevi há quarenta e muitos anos, sem ainda saber ler
nem escrever. Hoje, que tinha obrigação de saber mais, só posso repetir que
esta arte recordatória, este filme mítico, este filme-mito (tão, tão diferente
da memória) arranca também daí: da solidão e do silêncio.»
Uma ópera? O melhor diálogo da história
do cinema?
Ainda Bénard da Costa:
«Reduzido a escrito e a seco, o diálogo é confrangedoramente banal, Se as pessoas ficam com tal memória dele é pelo concerto das vozes – raspante, a de Crawford, átona a de Hayden – que se ouve no filme e pela associação delas à fabulosa partitura de Victor Young.»
“Vienna – É uma história triste.
Johnny – Sou bom ouvinte de
histórias tristes.
Vienna – Há cinco anos
apaixonei-me por um homem. Não era bom nem mau, mas… eu amava-o. Quis casar com
ele, ajudá-lo a construir um futuro.
Johnny – Mereciam ser felizes…
Vienna – Mas não foram.
Separaram-se. Ele não se via amarrado a uma família.
Johnny – Felizmente ela foi
esperta e livrou-se dele.
Vienna – Claro que foi.
Aprendeu, daí em diante, a não se apaixonar por ninguém.
Johnny – Cinco anos é muito
tempo… Com certeza que, entretanto, na sua vida houve outros homens.
Vienna – Os suficientes.
Johnny – O que aconteceria se
esse homem voltasse?
Vienna – Quando um fogo se
extingue, só restam as cinzas.
Johnny – Quantos homens já
esqueceste?
Vienna – Tantos quantas as
mulheres de que te lembras.
Johnny – Não te vás embora.
Vienna – Nâo me mexi.
Johnny – Diz-me qualquer coisa
bonita.
Vienna – Que queres que eu te
diga?
Johnny – Mente-me. Diz-me que
esperaste por mim todos estes anos.
Vienna – Todos os anos esperei
por ti.
Johnny – Diz-me que morrerias se
eu não tivesse voltado.
Vienna – Morreria se tu não voltasses.
Johnny – Diz-me que ainda me amas como
sempre te amei.
Vienna – Ainda te amo como tu me
amas.
Johnny – Obrigado. Muito obrigado.
Play the
guitar play it again my johnny
Maybe
you're cold, but you're so warm inside
I was always a fool for my johnny
For the one they call johnny guitar
Play it again, johnny guitar
What if you go what if you stay i love you
What if you're cruel you can be kind i know
There was never a man like my johnny
Iike the one they call johnny guitar
There was never a man like my johnny
Iike the one they call johnny guitar
Play it again johnny guitar
Ainda João Bénard da Costa:
«Muitas vezes ouvi a banda sonora do Johnny Guitar sem ver as imagens. Tudo vem, por acréscimo, toda a memória do filme se repovoa, Mas, para que isso suceda, é preciso haver memória, é preciso ter-se visto o filme. Se é verdade que Johnny Guitar é também uma ópera, não o é menos que está dependente daquela única e irrepetível mise en céne.»
1 comentário:
Mas qual comentário...um tipo a ler estas coisas até fica sem palavras.
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