Natal de 1948
Uma
consoada triste, com minha mãe a apodrecer no cemitério. À chegada, já não
estava ela à porta a esperar-nos, nem ao jantar as rabanadas tinham o mesmo
gosto. O velho, coitado, foi até onde pôde para se mostrar mais humanizado. Recebeu-nos
ele, e fez as honras da casa. Como era impossível delegar na companheira
perdida as delicadezas e os sorrisos, a sua timidez esforçou-se e apresentou-se
gentil e afectuosa. É como se ele tivesse também morrido já, mas estivesse
condenado a fingir de vivo mais algum tempo.
Miguel Torga em Diário, Volume IV
Sem comentários:
Enviar um comentário