Dito
já que começaram as iniciativas que visam
registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei
pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um
parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo
dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam
a Biblioteca da Casa.
Isto foi o que se escreveu a abrir as hostilidades de reler os livros de Saramago e escolher sublinhados.
Ao quarto ou quinto dia de escolhas foi
avisado dizer que se iria também entrar nos livros sobre José Saramago, e pelas
inúmeras entrevistas que deu, algumas em papel de revista ou jornal, algumas já
coligidas em diversos livros.
Hoje peguei na conversa que
Baptista-Bastos teve, em Lanzarote, com José Saramago – José Saramago: Aproximação a Um Retrato.
Na abertura do livro, prefácio a que
chamou A Ilha Ardente, escreveu Baptista-Bastos:
«Todos nós vivemos em ilhas. Todos nós
vivemos cada vez mais em ilhas. As nossas ilhas particulares começam quando
desistimos de existir em continente, ou quando nos obrigaram a levar a adoração
a outros deuses. Quer-se dizer: as nossas reclusões são deliberadamente
procuradas ou rudemente impostas.»
Em Madrid, antes de rumar a Lanzarote, o
Bastos esteve numa esplanada da Gran Via à conversa com o seu amigo Pablo Del
Amo que lhe disse: «Sabes aquela de que
nenhum homem vive numa ilha, mesmo que viva numa ilha?»
Baptista-Bastos termina o prefácio:
«Voltámos a conversar sobre as ilhas: as
solitárias ilhas que muitos homens albergam nos solitários corações. Mas também
entender que o grande mundo está cada dia menor, cada dia mais pequeno, e que,
frequentemente, o grande mundo é uma pequena e solitária ilha. Habitada por
cegos, como Saramago nos disse, numa parábola admirável. Diz: “viver em
Lanzarote é, afinal, viver num bairro de uma grande ilha que é o pequeno mundo
em que todos vivemos.”»
O argentino Claudido Hochman, um sábio
de ilhas, por aqui deixou escrito:
«Quem levarias para uma ilha
deserta? A Solidão. Só a Solidão? Sim, é uma boa companhia.»
«Há pessoas que vivem numa ilha sem nunca terem estado numa ilha. Rodeia-as um mar de silêncio.»
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