sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Pegamos em O Ano da Morte de Ricardo Reis para lermos o que José Saramago nos tem para dizer sobre um findar de ano:

«Hoje é o último dia do ano. Em todo o mundo que este calendário rege andam as pessoas entretidas a debater consigo mesmas as boas acções que tencionam praticar no ano que entra, jurando que vão ser rectas, justas e equânimes, que da sua emendada boca não voltará a sair uma palavra má, uma mentira, uma insídia, ainda que as merecesse o inimigo, claro que é das pessoas vulgares que estamos falando, as outras, as de excepção, as incomuns, regulam-se por razões suas próprias para serem e fazerem o contrário sempre que lhes apeteça ou aproveite, essas são as que não se deixam iludir, chegam a rir-se de nós e das boas intenções que mostramos, mas, enfim, vamos aprendendo com a experiência, logo nos primeiros dias de Janeiro teremos esquecido metade do que havíamos prometido, e, tendo esquecido tanto, não há realmente motivo para cumprir o resto, é como um castelo de cartas, se já lhe faltam as obras superiores, melhor é que caia tudo e se confundam os naipes.»

2 comentários:

Luis Eme disse...

O Grande Saramago ia adorar estes "sublinhados".

É sempre bom atracar no "Cais do Olhar.

Abraço Sammy

Sammy, o paquete disse...

Atrasado que seja: obrigado Luís.
Tantos anos percorridos e saber, mais uma vez, sempre, que há coisas da infância que nos ficam agarrados como sarna. A história dos dias de Janeiro e Fevereiro, declarados como terríveis, pelo meu avô paterno, sempre fui remediando... mas a pandemia - desculpa parva, parva mesmo - não poderá servir para tudo.
E ainda tenho para ali o C.S. Lewis a dizer que «lemos para saber que não estamos sozinhos».
Abraço