Dito
já que começaram as iniciativas que visam
registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei
pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um
parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo
dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam
a Biblioteca da Casa.
Pegamos em O Ano da Morte de Ricardo Reis para lermos o que José Saramago nos
tem para dizer sobre um findar de ano:
«Hoje é o último dia do
ano. Em todo o mundo que este calendário rege andam as pessoas entretidas a
debater consigo mesmas as boas acções que tencionam praticar no ano que entra,
jurando que vão ser rectas, justas e equânimes, que da sua emendada boca não
voltará a sair uma palavra má, uma mentira, uma insídia, ainda que as merecesse
o inimigo, claro que é das pessoas vulgares que estamos falando, as outras, as
de excepção, as incomuns, regulam-se por razões suas próprias para serem e
fazerem o contrário sempre que lhes apeteça ou aproveite, essas são as que não
se deixam iludir, chegam a rir-se de nós e das boas intenções que mostramos,
mas, enfim, vamos aprendendo com a experiência, logo nos primeiros dias de
Janeiro teremos esquecido metade do que havíamos prometido, e, tendo esquecido
tanto, não há realmente motivo para cumprir o resto, é como um castelo de
cartas, se já lhe faltam as obras superiores, melhor é que caia tudo e se
confundam os naipes.»
2 comentários:
O Grande Saramago ia adorar estes "sublinhados".
É sempre bom atracar no "Cais do Olhar.
Abraço Sammy
Atrasado que seja: obrigado Luís.
Tantos anos percorridos e saber, mais uma vez, sempre, que há coisas da infância que nos ficam agarrados como sarna. A história dos dias de Janeiro e Fevereiro, declarados como terríveis, pelo meu avô paterno, sempre fui remediando... mas a pandemia - desculpa parva, parva mesmo - não poderá servir para tudo.
E ainda tenho para ali o C.S. Lewis a dizer que «lemos para saber que não estamos sozinhos».
Abraço
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