sábado, 11 de dezembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Ainda estamos com o livro de Fernando Venâncio, no capítulo que o autor chamou: Obscuro, Crítico, 45 anos:

Na derradeira crítica que José Saramago faz para a Seara Nova, aborda dois livros: O Despojo dos Insensatos de Mário Ventura e O Delfim de José Cardoso Pires.

Sobre a crítica ao livro de Cardoso Pires há-de escrever, a 22 de Julho de 1994, um texto que consta do Vol. II dos Cadernos de Lanzarote:

Agora eis-me perante os fantasmas de opiniões que expandi há quase trinta anos, algumas bastante ousadas para a época, como dizer que Agustina Bessa Luís “corre o risco muito sério de adormecer ao som da sua própria música”. Apesar da minha inexperiência, e quanto sou capaz de recordar, creio não haver cometido grossos erros de apreciação nem injustiças de maior tomo. Salvo o que escrevi sobre “O Delfim” do José Cardoso Pires: muitas vezes me tenho perguntado onde teria eu nesse momento a cabeça, e não encontro resposta…

Hoje, relida a crítica, percebe-se o espanto de Saramago ao” não saber onde tinha a cabeça” quando se debruçou sobre O Delfim.

Conhecendo-se o Saramago de então, não é fácil encontrar motivos para não ter entendido (?) o que Cardoso Pires queria com o livro.

Só Saramago nos poderia responder, e nunca o fez claramente.

Uma boa altura para lembrar o estafado: ninguém é perfeito!

O crítico Venâncio  abre o frasquinho de veneno quando escreve «que não há traço de entusiasmo» quando Saramago se debruça sobre o livro de Cardoso Pires. «Sem dúvida, o livro é achado “tecnicamente perfeito”, a provar as qualidades de “rigor, economia e disciplina” que sempre distinguiram a obra. Mas cedo Saramago singra, e aí se fixa, para a consideração do marialvismo (e sabe-se quanto Cardoso Pires achava esse, aqui, secundarizável). Na opinião do crítico, se era para a “condenação” que o romancista pendia, não menos se denunciava “certa tinta de simpatia, um odor de saudade dos tempos antigos.” Uma complicada mas patente “relação de amor-ódio”, concluía ele. Por uma vez com gravidade, a subtilrza abandonara o crítico. Não ocorreu a Saramago que, desde a primeira à última página, O Delfim é o corajoso funeral do marialvismo. E que, cada assomo da “simpatia”, da saudade”, mais ensombrado o féretro passa.

Ah! Saramago onde tinhas a cabeça?!...

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