3 de Maio de 1992
A eternidade não me interessa, costumava
dizer, deve ser um enorme aborrecimento. O que eu desejo é uma outra imagem do
tempo, um tempo que se torne elástico, extensível, pastosos mas transparente,
um tempo-chiclets, um tempo como a massas do pão que se modela com os dedos. Os
momentos de verdadeira felicidade são exactamente como este: avanço em direcção
ao mar, e de súbito é tudo mar dentro de mim. Henri Michaux, esse viajante sem
viagens, ensinou-me um dia: «Qui connaît une mer connaît la mer.» Talvez o
fascínio do jazz resulte de uma relação com o tempo deste tipo: uma tela que se
alarga tanto à volta da minha cabeça que se torna uma venda iluminada (ouço
Solitude cantado poe Ella Fitzgerald).
Eduardo Prado Coelho em Tudo O
Que Não Escrevi, Volume II
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