A Frenesi Loja tem à venda
(30 euros, portes incluídos) uma edição comemorativa dos dez anos do Prémio
Fernando Pessoa, profusamente ilustrado a cor, encadernação
editorial em tela gravada a ouro na pasta anterior e na lombada, com sobre capa
impressa, folhas-de-guarda impressas.
«O grande interesse
nesta publicação, que reúne fotos e entrevistas com os galardoados de uma
década, reside no facto de testemunhar, num registo verdadeiramente patético, o
embaraço dalguns membros do júri mais audazes quando, rumo a Cascais em demanda
do nosso maior poeta vivo, Herberto Helder, portadores do “ouro” do Prémio
Pessoa 1994, encontraram o caminho de volta na simplicidade inflexível da
palavra de um pobre guardador do seu crisol: «Vocês não digam a ninguém e dêem
o prémio a outro...»
«Em 1994, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa pela sua obra
que, segundo o júri, iluminava a língua portuguesa.
Uma pipa de massa para quem tinha uma reforma curta.
Mas Herberto Helder recusou a distinção.
António Alçada Baptista e Clara Ferreira Alves, em nome
próprio e do Expresso, tentaram demovê-lo.
Conta o Alçada Baptista:
Conta o Alçada Baptista:
O Herberto estava na sala. Falou à Clara e depois a
mim.
Eu disse, meio a brincar meio a sério:
- Vimos numa difícil missão...
- Vimos numa difícil missão...
Ele, com toda a simplicidade dele, disse-me logo que
não, calculando que era um prémio.
Não foi possível demovê-lo e sentimos que aquilo era
tão fundo e tão importante para ele que não devíamos insistir. Ele disse:
- Vocês não digam a ninguém e dêem o prémio a outro...
- Não pode ser, o júri escolheu-te a ti, a decisão
está tomada; respeitamos que digas que não...
Ele ainda acrescentou:
- Peço que sejam meus mandatários e digam ao júri que
eu agradeço mas não posso aceitar.
Eu queria transmitir bem que não havia aqui nenhuma
arrogância: a sua recusa não era contra ninguém. Era uma decisão do seu eu mais
íntimo, que logo nos mereceu o maior respeito.
Eu só lhe disse:
- Eu já gostava de ti e vi agora que é possível ainda
gostar mais.»
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