António José Saraiva,
ao longo da sua correspondência com Óscar Lopes , lamenta-se que o amigo lhe
escreva tão pouco.
Na carta, datada de
Paris a 23 de Março de Março de 1964, começa por escrever:
Recebi a tua carta via Suiça. Aliás simples postal escrito a correr.
Sei que tens falta de tempo, mas essa não é a razão verdadeira de me escreveres
pouco.
O final da carta é
uma abordagem de «alguns problemas
pessoais»:
«O meu contrato com o CNRS acaba impreterivelmente em Setembro. Até lá
preciso de saber o que vou fazer. Tentei uma diligência a saber se poderei
colocar-me na Universidade de Argel, Se falhar – que é o mais provável – terei de
tentar o Brasil, porque tenho responsabilidades de família. Mas receio que indo
para o Brasil lá fique. Os rapazes estão na adolescência os mais velhos, e
arrisco-me a ter netos brasileiros. Talvez não me seja possível mais tarde
refazer uma vida em Portugal. Por isso a ida para o Brasil quase me aterroriza.
Este problema traz-me num estado de perplexidade angustiosa. Outro problema que
continua a afligir-me é o da solidão moral e física. Isto faz com que eu fuja o
mais possível do meu quarto, o que prejudica o meu trabalho. Tenho pensado
muito nestes últimos tempos, mas tenho escrito pouco. Por outro lado, para satisfazer as minhas
obrigações com o CNRS meti-me num trabalho erudito e minuciosos sobre Vieira,
que tem certo interesse, mas que não é o género de trabalho que propriamente me
interessa. É fundamental para eu escrever estar metido numa polémica ideológica.
Gosto de viver e falar no meio de gente. Evidentemente que não é em Paris que
eu me sinto empenhado. Não o será também no Brasil, a não ser que eu deixe de
pensar em Portugal, o que me parece impossível. Até agora sofro de todas as
desvantagens de estar longe de Portugal, sem em troca ter achado outro meio de
integração.
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