Carta, datada de 23
de Novembro de 1958, para Óscar Lopes:
Tenho um favor a pedir-te: o adiamento por três meses do pagamento dos
4.000$00. A minha saída de casa complicou-me os problemas financeiros, por
enquanto.
Vou provavelmente desistir da edição do Gil Vicente para a Aguilar
porque há um Inglês que prepara outra edição crítica para a Credos, e tem
algumas novidades a revelar. A verdade, porém, é que estava sobrecarregado.
Continuo tentando uma bolsa em França. Sinto que estes anos que estão
correndo são decisivos na minha vida. Em 1957 e 1958 tomei três decisões
capitais, que estava adiando há anos: a operação, a separação, e a rescisão do
contrato com o Jornal do Foro. Mas isso é o que menos importa. O que eu quero é
levar o mais longe possível a minha fase de aprendizagem; e, enquanto puder,
renovar-me. Para isso seria muito útil a ida ao Estrangeiro. Mas há uma coisa
em que precisos também de me renovar: é habituar-me a pensar menos em mim
próprio. O meu pai, que é um homem perspicaz (só à distância o vejo), dizia,
quando eu era miúdo, que eu tinha uma palavra constante na boca: - «Eu, eu,
eu».
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