A minha vizinha do andar de baixo tem muita idade e vive sozinha.
Poucas vezes a vejo, porque nunca sai, não sobe nem desce escadas;
porque eu saio e entro sempre em correria, porque o egoísmo adia a visita, o
bom-dia, a planta que se encomendou no florista.
Estive um tempo fora. No regresso subia com as malas, e o estrondo
sincopado de encontro aos degraus chamou a atenção da senhora que apareceu no
patamar. Perante o seu contentamento de me ver tornei a sentir-me envergonhada.
«Sim, a sua vida… Gostava de vê-la mais vezes mas não faz mal. Sabe,
bastam-me os seus passos embora cheguem aqui abafados pela alcatifa. Gosto
tanto de os ouvir. A verdade é que tinha saudades do som dos seus passos lá em
cima».
Isabel da Nóbrega em Quadratim-I
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