De poucos filmes sei,
que recriem a magia das matinés da infância e da adolescência como Cinema Paraíso do italiano Giuseppe
Tornatre.
Aquele tempo único em
que a plateia do Cine-Oriente fazia uma imensa chinfrineira face às imagens que
corriam na tela, uma inocente euforia que não mais encontrei, um público que
mal sabia ler e uma boa parte nem isso. Fui um dos muitos miúdos desse cinema
barato, onde tantos descobriram a magia do cinema, o seu mundo de fantasia.
São esses espectadores,
outros que se foram surgindo por todos os tempos, que têm por Cinema Paraíso um sentimento de puro
afecto.
No filme está lá
tudo: a magia do cinema, o amor ao cinema, a nostalgia.
Aquando da sua estreia,
um pouco por cada canto do mundo, os críticos torceram o nariz e foram os
espectadores que lhe deram a alma, ao ponto de ser distinguido com o Grande
Prémio do Júri, no Festival de Cannes de 1989, e o Óscar de melhor filme
estrangeiro.
A sequência dos
beijos cortados pelo padre-censor, é antológica.
Há quem considere Cinema Paraíso um filme sentimentalista,
pretendendo esquecer que, acima de tudo, se trata de uma homenagem ao cinema,
seja lá o que isso for.
O meu pai morreu em
Junho de 1990.
O filme, em Portugal,
estreou nos primeiros meses desse ano.
Por Abril, desafiei o
meu pai para irmos ver o filme e, como era tradição, depois de cada sessão, beber
uma garrafinha a acompanhar um qualquer petisco.
Ainda disse que à garrafinha
talvez, mas ao filme não iria.
No adiantou razões,
falou-me vagamente numa crónica do Carlos Pinhão sobre o filme, mas não
consegui juntar as pontas desse novelo.
Claro que sinais da
doença já os sentia e a sua inteligência levou-o a não ser companheiro.
Nem filme, nem
garrafinha.
Por mim e por ele,
quase um Imenso Adues do Chandler,
fui ver o filme, sessão das 16,30 horas, do dia 6 de Junho, no Plaza, uma sala que existia no Centro
Comercial Alvalade.
Chorei infâncias
perdidas, como escreveu Jorge Silva Melo em relação a O Vale Era Verde do John Ford.
Chorei essencialmente
a morte do meu pai que pressentia próxima.
Ocorreria dezasseis
dias depois dessa sessão do dia 6.
Se a catalogação existe,
Cinema Paraíso é um dos filmes da
minha vida.
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