Rómulo de Carvalho já
contou aos tetranetos que, em Março de 1996, esteve internado no Hospital de Santa Maria, correndo risco de morte e a história que ele conta do quarto que
tinha um lavatório de parede, «onde
a torneira da água fria não vedava bem e a água sempre a correr em fio» e dizia: «da
grave moléstia que tive suponho que estou bem mas, do que padeço
permanentemente, é das consequências da minha diverticulose intestinal, e
suponho que essa virá a ser a causa do meu fim. Pois que venha esse fim, mas com
o menos sofrimento possível. Este é que temo; não aquele».
Mal sabia Rómulo que passados três meses voltaria a dar
entrada num hospital «com menos demora,
noutro local e por diferente motivo». Dava-se o caso que, há onze anos,
tinha um “pace-maker” , um «marca-passos”, «como
dizem os espanhóis» que dava sinais de cansaço, que tinha de ser
substituído, mas o Hospital de Santa Maria não possuía condições para a
colocação de um “pace-maker” de outro modelo, mais moderno.
«Foi o que me
disseram».
E acrescenta:
A questão tinha,
para mim, um gravíssimo inconveniente. No primeiro caso não gastei dinheiro
nenhum com a intervenção, nem com o internamento durante dois dias. O hospital
era do Estado o que me proporcionou aquelas regalias. O de agora seria o
Hospital Particular de Lisboa, conhecido pela exorbitância dos seus preços, na
Rua Luís Bivar.
Entrei nele no
passado dia 27 de Junho pelas duas horas da tarde. Dirigi-me ao balcão e disse
ao que ia. A empregada já estava informada, sentou-se a escrever e entregou-me
um papel. Era a conta da entrada, nada mais, nada menos do que 150.000$00.
Cento e cinquenta contos (…) e ganho,
por mês, 159.703$00.
(…)
O quarto tinha uma
só cama e nela me mandou deitar, debaixo da roupa. Colocou-me então no peito,
junto do coração, uma ventosas ligadas por fios eléctricos a um aparelho de
medição, e que me deixasse estar assim até o médico vir. E então saiu, com
presteza.
Assim fiquei
sozinho no mundo, a olhar para o tecto. Sem roupa, sem peúgas, sem sapatos, sem
nada que fosse meu, sem um lápis, sem uma tirinha de papel, sem um rádio, sem
um televisor, sem nada, absolutamente nada, só, só, e só.
(…)
Tinha entrado para
o hospital em 27, fiquei em 28 e saí em 29. Despi o balandrau branco que me
envolvia., vesti a roupa que a vossa tetravó Natália me levou ao quarto e
regressei a casa. E agora, a conta. Quereis aber quanto foi? Sentai-vos
primeiro para não cairdes para o lado. Total: 651.421$00.
E o médico que
efectuou a operação, o Dr. Correia da Cunha, pessoa amiga e generosa, não me
quis levar nada pelo seu trabalho.
O preço é
assustador mas, para compensação e para que não deixássemos o hospital
mal-humorados, uma sua funcionária. À saída, aproximou-se da vossa tetravó
Natália e estendeu-lhe, com os seus melhores cumprimentos, um saco de plástico
com uma lembrança. O saco continha três pequenos alguidares de plástico para
serviço na cozinha…
Rómulo de Carvalho em
Memórias
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