As realizadoras
Catherine Gund e Daresha Kyi reuniram uma série de testemunhos e documentos,
mais as canções e fizeram um documentário de Chavela a cantora da voz rouca e
sofrida, voz única, e ninguém como ela cantou a solidão.
Este género de filmes
costuma estar muito tempo em exibição.
O lixo
cinematográfico, esse, prolonga-se por meses em qualquer sala da cidade.
É como os livros que
interessam: alguns nem chegam às livrarias, outros estão um ou dois dias nos
escaparates. Os Josés Rodrigues dos Santos eternizam-se nos diversos espaços
das livrarias.
Chavela, é um filme biográfico a não perder.
De um texto publicado
no suplemento Mais Artes da edição do
Diário de Notícias de 7 de Abril:
Cantava como quem morre e punha a vida na voz. Chavela Vargas
(1919--2012) nasceu na Costa Rica mas fugiu para o México ainda jovem e
integrou a tradição musical ranchera do país, fazendo-se respeitar numa
sociedade patriarcal. Usava calças e bebia tequila como os homens. Não se
assumiu publicamente como lésbica até aos 81 anos, mas entre as suas muitas
amantes conta-se Frida Khalo. Depois de uma fase marcada pelo alcoolismo,
regressou aos palcos, desta vez do mundo, pela mão de Almodóvar, que a
eternizou nas bandas sonoras dos seus filmes.
Foi antes desse retorno aos palcos que Catherine Gund a entrevistou, em
1992, como relata: "Quando conheci Chavela Vargas, e filmei a nossa
interação, ela tinha 72 anos e toda uma vida de canto, tendo sofrido com a
bebida durante muito tempo. Tornou-se uma espécie de reclusa. Filmá-la naquele
momento significou realmente preservar algo da sua memória para a posteridade.
Eu estava convencida de que a carreira dela estava completa." São essas
filmagens que abrem o filme, mostrando uma mulher sem medo. "Quem é que
faz um comeback com aquela idade?", espanta-se Daresha Kyi.
Quando lhes perguntamos como definem Chavela e o seu canto rouco e
abismal, as respostas são poéticas. "Era uma sereia cantando das
profundezas de um mar de emoção", diz Daresha. Já Catherine descreve a
sensação: "Quando a música acaba ainda estou completamente imersa no seu
crepúsculo. Não tenho a certeza se isso equivale a absolvição, sobrevivência,
transformação ou tudo ao mesmo tempo, mas sei que a sua música me deixa
transformada.
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