Este
não é o dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um desfilar de
histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias,
figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação
do dia, mês, ano em que aconteceram.
A imagem que
encima o texto, mostra as Conclusões da tese que José Medeiros Ferreira, apresentou
no 3º Congresso da Oposição Democrática.
A tese foi lida
no Congresso pela mulher de José Medeiros Ferreira que se encontrava exilado,
desde 1968, na Suiça.
O jornalista do Público Nuno Ribeiro, em Janeiro de 2014, teve uma conversa com Medeiros Ferreira que viria a morrer em 18 de Março de 2014.
Na edição do dia seguinte à morte, Nuno Ribeiro, publica um resumo da conversa que mantivera com Medeiros Ferreira e que agora se citam algumas passagens
“O pensamento estratégico da instituição militar estava a mudar no sentido
de obrigar o Governo de Marcello Caetano a defender objectivos ao alcance dos
meios militares portugueses”, referiu Medeiros Ferreira: “As Forças Armadas não
se iam oferecer muito mais tempo ao regime.”
Esta tese percursora, redigida no Natal de 1972, não foi acolhida pela oposição
ao regime. “Quando regressou a Genebra a minha mulher contou-me que a tese não
tinha sido bem recebida. Aliás, não faz parte das conclusões que, entre outros,
foram feitas por Gomes Canotilho”, recordou José Medeiros Ferreira: “A minha
tese afrontava as teses do PCP.
O historiador José Pacheco Pereira estava presente em Aveiro aquando da
apresentação da tese. “A maioria das pessoas não prestou atenção. Mas houve
protestos, recordo uma mulher jovem que afirmava ser da Amadora dizer conhecer
os militares e que a tese era mentira”, lembra. “A maioria das pessoas ali
presente tinha relações com o PCP e viam na tese de Medeiros Ferreira a
reminiscência do putschismo do republicanismo histórico”, conta Pacheco
Pereira. Em clara contradição, “com a tese do levantamento nacional armado de
Álvaro Cunhal descrita no Rumo à Vitória”.
Pacheco Pereira contextualiza, por fim, o Congresso de Aveiro: “O ambiente era
de um comício contra o regime, era tudo a preto e branco, contra o regime e os
esquerdistas contra o PCP”. Assim, a tese de um outsider exilado, como era José
Medeiros Ferreira, careceu de apoio e atenção.»
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