quarta-feira, 11 de maio de 2022

PIANO

Suavemente, na penumbra, uma mulher canta para mim;
Fazendo-me voltar e descer o panorama dos anos, até que vejo
uma criança sentada debaixo do piano, na explosão do prurido das
cordas
E pressionando os pequenos, suspensos pés de uma mãe que sorri
enquanto ela canta.

Apesar de mim, a insidiosa mestria da canção
Atraiçoa-me fazendo-me voltar, até que o meu coração chora para
pertencer
Ao antigo entardecer dos domingos em casa, com o inverno lá fora
E hinos na aconchegada sala de visitas, o tinido do piano o nosso guia.

Por isso agora é em vão que a cantora irrompe em clamor
Com o appassionato do grandioso piano negro. A magia
Dos dias infantis está em mim, a minha masculinidade
É desencorajada no fluxo da lembrança, choro como uma criança
pelo passado.

D.H. Lawrence

1 comentário:

Sammy, paquete disse...

Há cenas de filmes que nos perseguem pela vida.
Como por exemplo aquela de um ainda desconhecido Jack Nicholson a sair da prisão em “Easy Rider". Era um cliente habitual da casa pelas suas costumadas bebedeiras.

Wyatt e Billy são presos por desfilarem de mota, sem terem licença para tal, no meio de uma parada do Carnaval de New Orleans. Batem com os costados na mesma cela onde está o Dr. Hausen.

Hausen é um advogado, filho de boas famílias e a quem, pela manhã, os policias levam uma aspirina para aliviar a ressaca.

Billy - Achas que consegues tirar-nos daqui sem problemas?

Hausen: Se não mataram ninguém, não há problema. Desde que não tenha sido um branco.

Por 25 dólares são postos em liberdade. Já na rua, Hausen saca do bolso do casaquinho branco uma garrafa de whisky.

Isto é para começar o dia, amigos.

Ergue a garrafa aos céus e grita: Ao velho D.H. Lawrence.

Bebido o gole de whisky faz um esgar trágico de sentir o mundo a desabar em cima dele e bate com o braço no corpo gritando “nique, nique, nique” fornecendo o informe que se trata de um grito índio.