quarta-feira, 6 de setembro de 2017

NÃO TEMO A MORTE


Oitenta e cinco anos é uma boa conta, embora hoje seja coisa corrente. Eu todos os dias leio a necrologia no Diário de Notícias e verifico a insistência com que se acentua a presença dos falecidos na casa dos oitenta anos e até na dos noventa, o que é uma novidade dos tempos recentes.
(…)
Eu não temo a morte. A vida, sim, essa é que é de temer, particularmente para quem, como eu, nunca teve jeito para se lhe adaptar. Fui sempre um inepto, um inadaptado, um desajeitado. Converso alegremente com vocês porque vocês não existem e, quando existirem, estarei eu defeito em partículas dispersas e já ninguém será capaz de me reconstituir para que vos possa defrontar. É melhor assim. Seremos todos, mutuamente, veneradores e obrigados.

Rómulo de Carvalho em Memórias

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da imagem.

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