Quando acontece
o 25 de Abril, havia cerca de 80 mil militares em Angola, na Guiné, em Moçambique,
que se sacrificavam numa guerra há muito perdida.
Alguém pode esquecer
uma guerra?
Em cada cem
escudos, os governos do botas de Santa Comba, gastavam sessenta com as despesas
da guerra.
Diversos os sentimentos de culpa.
Em A Ilustre Casa de Ramires, Eça de Queiroz, põe o economista Gouveia a dizer à Senhora Dona Graça:
«Tenho horror à África. Só serve para nos dar desgostos. Boa para vender, minha senhora! A África é como essas quintarolas, meio a monte, que a gente herda duma tia velha, numa terra muito bruta, muito distante, onde não se conhece ninguém, onde não se encontra sequer um estanco; só habitada por cabreiros, e com sezões todo o ano. Boa para vender.
Gracinha enrolava lentamente nos dedos a fita do avental:
- O quê! Vender o que tanto custou a ganhar, com tantos trabalhos no mar, tanta perda de vida e fazenda?!
- Quais trabalhos, minha senhora? Era desembarcar ali na areia, plantar umas cruzes de pau, atirar uns safanões aos pretos… Essas glórias de África são balelas.»
Naquele tempo era vulgar ler nos jornais anúncios de oferta de emprego para várias actividades profissionais mas em que havia sempre um terrível requisito: SERVIÇO MILITAR CUMPRIDO.
As famílias, que tantos sacrifícios faziam para dar um curso aos filhos, ficavam perante mais um gritante problema: os jovens a aguardarem incorporação no serviço militar estavam proibidos de trabalhar.
A vida de um país cinzento e negro que matava as esperanças de toda uma
juventude.
Já está feita toda essa história?
Como disse o René Char: há guerras que não acabam nunca!
Legenda: recorte de uma Carta ao Director publicada no Diário Popular de 26 de Novembro de 1972.
Sem comentários:
Enviar um comentário