Este nicho Música pela Manhã acontece quando nos aparece algo que diz respeito a um autor, a um cantor, a uma data.
Inevitavelmente hoje teria
de ser o tempo dessa canção do José Mário Branco.
O tempo em que, como
escreveu o jornalista Rodrigues da Silva «algures, numa dobra da história,
alguma coisa falhou, algum erro se cometeu. Seria altura de saber, onde, como,
porquê. Mas talvez seja demasiado tarde…»
1.
Varela Gomes:
«Mas não havia nada a fazer. A grande decisão
estava tomada. Otelo Saraiva de Carvalho obedecia à convocação do
general Costa Gomes, largando os “paras” à sua sorte. O estratega do 25 de
Abril de 1974 abandonava vergonhosamente o seu posto de comando em 25 de
Novembro de 1975. Na hora do aperto, fugia de calças na mão, à procura do
refúgio protector.
Deveriam ser cerca das 15,00 horas quando o general
graduado Otelo Saraiva de Carvalho saiu do Copcon… e da revolução.(1)
Estamos no fim da Revolução. E porventura não
tardará aí o inferno que ninguém quer.
3.
Angústia semelhante à que agora ressurge com o agravamento das condições de
vida, a subida arrogante da reacção, a incerteza do futuro que tem que ser
construído de novo.
O Povo terá pois que teimar para que respeitem a sua vontade de acabar com a
exploração do homem trabalhador pelo homem esperto. Para que as condições de
vida sirvam as classes desfavorecidas. Para que acabem as perseguições aos que
olham o futuro sem medo da mudança. parq ue a justiça social deixe de ser uma
miragem evangélica no mundo dos mortos. Para quem produz trabalhando, exerça o
poder, Para que sejamos verdadeiramente um país Democrático.»
Quando era evidente, depois do 25 de Novembro, que
tinha acabado a revolução.»
António Rego Chaves, anos mais tarde, no Diário
de Noticias:
«Tenho uma imensa saudade dos antifascistas de 24 de Abril de 1974. Era,
aparentemente, gente boa, pura, desinteressada em obter ganhos pessoais,
generosa. Depois, apenas um dia depois, o minúsculo vírus não identificado que,
afinal de contas, tantos deles já traziam adormecido no cérebro e lhe roía as
entranhas pôs-se a crescer, a crescer desmesuradamente, sem eira nem beira,
como um polvo, uma maldição, até nos revelar o seu horrendo segredo: o oportunismo,
a ganância, a sede de vingança, nem que fosse um pequeno pontapé nas canelas do
“chefe”davéspera, do vizinho do lado, do gato comunitário, vulgo vadio.»
6.
«E aí volto àquela noite, que volto a não ter pejo de achar que não é para celebrar. Alguns anos volvidos, pergunto-me à esquerda também moderada, terá sido um acto legítimo a interrupção do galhofeiramente nomeado PREC? Terá valido a pena, a não conciliação dentro daquele terreno, que, fosse para onde fosse, não deixava de galvanizar grandes massas de trabalhadores, muitos intelectuais, muita gente honesta hoje marginalizada? Porque não é mais possível, na memória comovida ou irritada de todos nós, dizer que o que estava sendo era instrumentalizado por Moscovo.
Maria Velho da Costa
7.
Diana Andringa:
Quem partiu o espelho dos sorrisos de Abril?
Simone Beauvoir, algures no tempo:
«O mais terrível dos sentimentos é o de ter a
esperança perdida.
É horrível assistir à agonia de uma esperança.»
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