No blogue A Nossa Rádio poderão encontrar os intérpretes que musicaram e os artistas que cantaram poemas de José Saramago.
O primeiro foi Luís Cília, durante o seu exílio em Paris.
Depois apareceu Manuel Freire em Eps e um LP «Devolta».
Já depois do 25 de Abril, Manuel Freire, reuniu essas cancões num CD a que
chamou As Canções Possíveis. São
estes os poemas das canções de Manuel Freire:
Circo
Nem Sempre a mesma rima
Ouvindo Beethoven
Retrato do Poeta quando jovem
Jogo do Lenço
Tenho um Irmão Siamês
Dispostos em Cruz
Fado do Velho do Restelo ao Astronauta
A Ponte
Dia Não
É tão fundo o Silêncio.
Três são os livros de poemas de José Saramago: Os Poemas Possíveis, Provavelmente Alegria
e O Ano de 1993.
Gosto do José Saramago poeta. Não é impunemente que
descobri Saramago quando, no final de uma tarde de chuvoso Novembro, na
Livraria Portugal, comprei os Poemas Possíveis,
sem sequer conhecer o nome, quem era, donde vinha. E tudo começou logo no
primeiro poema do livro:
“Até ao Sabugo”
“Outros porão em verso outras razões,
Quem sabe se mais úteis e urgentes,
Mas ninguém se refaz a natureza,
E como quem prevê acusações,
Aqui direi que busco a só maneira
De todo me encontrar numa certeza,
Leve nisso ou não leve a vida inteira.
Assim como quem rói as unhas rentes.”
Na única vez que estive com José Saramago, Festa do
Avante de 1977, lembro-me de lhe ter dito que apreciava muito os seus poemas.
Com aquele seu sorriso tímido, acabou por dizer que não era mais do que um
poeta mediano.
A Música pela Manhã de hoje, detém-se num poema de José
Saramago cantado por Mísia no seu álbum «Garras
dos Sentidos».
O fado, música
de Franklin Rodrigues, chama-se Nenhuma Estrela Caiu e é uma letra
adaptada do poema A Ponte que consta do livro Provavelmente Alegria.
Janelas que me separam
Do vento frio da tarde
Num recanto de silêncio
Onde os gestos do pensar
São as traves duma ponte
Que não paro de lançar
Vem a noite e o seu recado
Sua negra natureza
Talvez a lua não falte
Ou venha a chuva de estrelas
Basta que o sono desperte
O sonho que deixa vê-las
Abro as janelas por fim
E o frio vento se esquece
Nenhuma estrela caiu
Nem a lua me ajudou
Mas a ruiva madrugada
Por trás da ponte aparece.
E este é o poema A Ponte, tirado de Provavelmente Alegria:
Vidraças que me separam
Do vento fresco da tarde
Num casulo de silêncio
Onde os segredos e o ar
São as traves duma ponte
Que não paro de lançar
Fica-se a ponte no espaço
À espera de quem lá passe
Que o motivo de ser ponte
Se não pára a construção
Vai muito mais da vontade
De estarem onde não estão
Vem a noite e o seu recado
Sua negra natureza
Talvez a lua não falte
Ou venha a chuva de estrelas
Basta que o sono consinta
A confiança de vê-las
Amanhã o novo dia
Se o merecer e me for dado
Um outro pilar da ponte
Cravado no fundo do mar
Torna mais breve a distância
Do que falta caminhar
Há sempre um ponto de mira
O mais comum horizonte
Nunca as pontes lá chegaram
Porque acaba o construtor
Antes que a ponte se entronque
Onde se acaba o transpor
Sobre o vazio do mar
Desfere o traço da ponte
Vá na frente a construção
Não perguntem de que serve
Esta humana teimosia
Que sobre a ponte se atreve
Abro as vidraças por fim
E todo o vento se esquece
Nenhuma estrela caiu
Nem a lua me ajudou
Mas a ruiva madrugada
Por trás da ponte aparece
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