sábado, 11 de novembro de 2023

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


 

No blogue A Nossa Rádio poderão encontrar os intérpretes que musicaram e os artistas que cantaram poemas de José Saramago.

O primeiro foi Luís Cília, durante o seu exílio em Paris.

Depois apareceu Manuel Freire em Eps e um LP «Devolta». Já depois do 25 de Abril, Manuel Freire, reuniu essas cancões num CD a que chamou As Canções Possíveis. São estes os poemas das canções de Manuel Freire:

Circo

Nem Sempre a mesma rima

Ouvindo Beethoven

Retrato do Poeta quando jovem

Jogo do Lenço

Tenho um Irmão Siamês

Dispostos em Cruz

Fado do Velho do Restelo ao Astronauta

A Ponte

Dia Não

É tão fundo o Silêncio.

Três são os livros de poemas de José Saramago: Os Poemas Possíveis, Provavelmente Alegria e O Ano de 1993.

Gosto do José Saramago poeta. Não é impunemente que descobri Saramago quando, no final de uma tarde de chuvoso Novembro, na Livraria Portugal, comprei os Poemas Possíveis, sem sequer conhecer o nome, quem era, donde vinha. E tudo começou logo no primeiro poema do livro:

“Até ao Sabugo”

“Outros porão em verso outras razões,
Quem sabe se mais úteis e urgentes,
Mas ninguém se refaz a natureza,
E como quem prevê acusações,
Aqui direi que busco a só maneira
De todo me encontrar numa certeza,
Leve nisso ou não leve a vida inteira.

Assim como quem rói as unhas rentes.”  

Na única vez que estive com José Saramago, Festa do Avante de 1977, lembro-me de lhe ter dito que apreciava muito os seus poemas. Com aquele seu sorriso tímido, acabou por dizer que não era mais do que um poeta mediano.

A Música pela Manhã de hoje, detém-se num poema de José Saramago cantado por Mísia no seu álbum «Garras dos Sentidos».

O fado, música de Franklin Rodrigues, chama-se Nenhuma Estrela Caiu e é uma letra adaptada do poema A Ponte que consta do livro Provavelmente Alegria.

 Estes são os versos cantados por Mísia:

Janelas que me separam 
Do vento frio da tarde
Num recanto de silêncio 
Onde os gestos do pensar
São as traves duma ponte 
Que não paro de lançar


Vem a noite e o seu recado 
Sua negra natureza 
Talvez a lua não falte 
Ou venha a chuva de estrelas 
Basta que o sono desperte 
O sonho que deixa vê-las

 
Abro as janelas por fim 
E o frio vento se esquece 
Nenhuma estrela caiu 
Nem a lua me ajudou 
Mas a ruiva madrugada
Por trás da ponte aparece.


E este  é o poema A Ponte, tirado de Provavelmente Alegria:

    
 Vidraças que me separam

Do vento fresco da tarde

Num casulo de silêncio

Onde os segredos e o ar

São as traves duma ponte

Que não paro de lançar

 

Fica-se a ponte no espaço

À espera de quem lá passe

Que o motivo de ser ponte

Se não pára a construção

Vai muito mais da vontade

De estarem onde não estão

 

 Vem a noite e o seu recado

Sua negra natureza

Talvez a lua não falte

Ou venha a chuva de estrelas

Basta que o sono consinta

A confiança de vê-las

 

Amanhã o novo dia

Se o merecer e me for dado

Um outro pilar da ponte

Cravado no fundo do mar

Torna mais breve a distância

Do que falta caminhar

 

 Há sempre um ponto de mira

O mais comum horizonte

Nunca as pontes lá chegaram

Porque acaba o construtor

Antes que a ponte se entronque

Onde se acaba o transpor

 

Sobre o vazio do mar

Desfere o traço da ponte

Vá na frente a construção

Não perguntem de que serve

Esta humana teimosia

Que sobre a ponte se atreve

 

Abro as vidraças por fim

E todo o vento se esquece

Nenhuma estrela caiu

Nem a lua me ajudou

Mas a ruiva madrugada

Por trás da ponte aparece


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