Falareis de nós como de um sonho.
Crepúsculo dourado.
Frases calmas.
Gestos vagarosos.
Música suave.
Pensamento arguto.
Subtis sorrisos.
Paisagens
deslizando na distância.
Éramos livres.
Falávamos, sabíamos,
e amávamos serena e
docemente.
Uma angústia
delida, melancólica,
sobre ela
sonhareis.
E as tempestades,
as desordens, gritos,
violência,
escárnio, confusão odienta,
primaveras morrendo
ignoradas
nas encostas
vizinhas, as prisões,
as mortes, o amor
vendido,
as lágrimas e as
lutas,
o desespero da vida
que nos roubam
- apenas uma
angústia melancólica,
sobre a qual
sonhareis a idade de oiro.
E, em segredo,
saudosos, enlevados,
falareis de nós -
de nós! - como de um sonho.
Jorge de Sena
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