terça-feira, 21 de novembro de 2023

OS DIAS VISTOS DO CAFÉ DO MONTE

Será das alterações climáticas, até a silly season mudou de calendário.

Como não recordar com saudade as famosas revelações de Lili Caneças feitas em Julho de 2011 ao jornalista André Rito durante uma conversa que terminava com o inesquecível diálogo: “Obrigado, Lili, foi um prazer”, ao que ela respondia: “Obrigada, eu. Não se esqueça de pagar o meu sumo”. Ou a carta de alforria assinada por Assunção Cristas no mesmo ano, uma iniciativa de nome “Ar Cool” que libertava os funcionários do Ministério da Agricultura e etc. das grilhetas da gravata. Ou o “brincar aos pobrezinhos na Comporta”, gosto confessado por Cristina Espírito Santo no Verão de 2013 e pelo qual pediria desculpa, ainda as desculpas não estavam tão baratas como hoje.

Dito isto, acrescente-se que no Evereste do disparate estival mantém-se a transformação do Algarve em ALLgarve, ideia que terá surgido em 2007 a Manuel Pinho, então ministro, hoje preso domiciliário numa quinta de três hectares perto de Braga (com o senão do raio coberto pela pulseira electrónica o impedir de dar um pulo à vinha ou à piscina), durante uma noite de insónia em que a visão de charters a abarrotar de turistas culturais a invadir o Sul – como o próprio adjectivo indica, vindos não pelas praias ou sequer pelo peixe grelhado, mas para ouvirem declamar poemas de Nuno Júdice ou ler excertos de Lídia Jorge – o leva a telefonar de imediato ao publicitário Pedro Bidarra, que aplaude ruidosamente, sem consideração pelos vizinhos dado o adiantado da hora, o “glamour aspiracional” do trocadilho, traduzido depois nuns cartazes e numas cenas que nos ficaram pela bagatela de nove milhões de euros.

Ana Cristina Leonardo de uma crónica no Público

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