O Despojo dos
Insensatos
Mário Ventura
Capa: José Cândido
Livraria Bertrand, Lisboa 1968
Vinte anos atrás a
enciclopédia dedicava duas páginas a Açoreira, referindo a existência de
fábricas de conserva, lagares de azeite, destilações de aguardente, moagens,
agências bancárias. Hoje existem apenas as Agências bancárias, quase todas as
semanas abre, os estrangeiros trocam dinheiro diariamente. O resto foi-se, na
voragem de um estranho progresso, com as pessoas sentindo-se estranhas na
própria terra e a abalar para outras paragens.
Na capitania estão
inscritos dois mil pescadores, e ainda não há muitos anos que todos enganavam a
morte e a vida arrastando-se pelas águas da Açoreira. Agora são, quanto muito
quinhentos, pescando apenas no Verão, no Inverno iludem o tempo em trabalhos de
vexame e de fome nos campos, e quase todos estão com um pé dentro e outro fora
desta terra maldita que lhes anda a trocar as voltas desde que nasceram.
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