Nova Orleães, ao
contrário de outros sítios que perdem a magia quando a eles voltamos, ainda
atem. A noite pode engolir-nos mas mesmo assim nada nos toca. Em todas as
esquinas, há uma promessa de algo destemido e ideal e as coisas mal começaram.
Há algo obscenamente alegre atrás de cada porta, ou então, alguém de cabeça
perdida a chorar. Um ritmo preguiçoso domina o ar sonhador e a atmosfera vibra
com os duelos de antigamente, com os romances de vidas passadas e com camaradas
que procuram auxílio noutros camaradas. Não se vêem mas sabe-se que estão lá.
Há sempre alguém a afundar-se. Toda a gente parece de outra qualquer família
sulista muito antiga. Ou isso ou são estrangeiros. Eu gosto disto tal como é.
Há muitos sítios de
que gosto, mas gosto mais de Nova Orleães. Há um milhar de perspectivas
possíveis a toda a hora. Podemos dar de caras a qualquer instante com uma
cerimónia em honra de uma rainha vagamente conhecida. Sangue azul, pessoas da
nobreza completamente bêbedas escorregam pelas paredes abaixo e arrastam-se
pela sarjeta. Mesmo esta gente parece possuir conhecimentos profundos que vamos
querer ouvir. Nada aqui parece deslocado. A cidade é um poema muito longo.
Jardins cheios de amores-perfeitos, petúnias cor-de-rosa, opiáceos. Santuários
ornamentados a flores, murtas brancas, buganvílias e loendros púrpura estimulam
os nossos sentidos, fazem-nos sentir frescos e tranquilos por dentro.
Tudo em Nova
Orleães é boa ideia.
Bob Dylan em Crónicas
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