Ao Urbano Tavares Rodrigues
Possuirei as mulheres de sábado.
O amor começa nesse dia,
o mundo acaba nesse dia
lembrando-me de sábado gastarei a
semana.
Possuirei as livres mulheres de sábado,
as agrestes mulheres que perfumam
as ruas,
as que trazem no corpo a Primavera,
as que serenamente, respiram
alegria.
Amarei nos cinemas as mulheres de
sábado,
beijá-las-ei em todos os bares.
Esquecer-me-ei que resisti seis
dias
para as ter nos meus braços.
Com as sabáticas mulheres
descobrirei jardins novos à cidade,
despedir-me-ei, sorrindo, dos eléctricos,
dos livros, dos cafés, das lojas
semanais.
Deixarei sobre a mesa os
cigarros.
Os inacabados poemas,
os tristíssimos lenços
que me acompanharam de domingo a
sexta.
Beberei cerveja, tomarei
champanhe
nas bocas abertas das mulheres de
sábado.
Nadarei, feliz, com as doces
mulheres,
falarei apenas de coisas bem
fáceis.
Ou nem falaremos para não erguer
as sombras pesadas de toda a
semana.
comeremos frutos, deitados na
areia
sem olhar estrelas nem nuvens
longínquas.
Sem esforço destruiremos o mundo,
triste pobre mundo dos homens reais.
e, amando-nos, sonharemos que o
domingo
não virá nunca mais.
António Rebordão Navarro
2 comentários:
Belo poema!
(como wu gosto de descobrir poemas que desconheço por aqui, Sammy)
Pela casa há poetas a que chamo vagabundos, porque não possuo qualquer livro, mas estão reunidos em antologias ou aparecem em recortes de jornais, quando havia suplementos literários.
Um dia, tão longe esse dia, numa viagem, de trabalho ao Porto, encontrei num alfarrabista seis volumes (a colecção são nove) das «Notícias do Bloqueio». António Rebordão Navarro, juntamente com Egito Gonçalves, Daniel Filipe, Papiniano Carlos, Luís Veiga Leitão, fazia parte da direcção literária. Uma voz límpida dos cafés do Porto, «a mesma voz que fala à namorada, que diz poemas e pede o bilhete nos eléctricos».
Tem um poema lindíssimo, na antologia de Poesia do Pós Guerra, «Carta do
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