Resposta a Matilde
Fernando Namora
Capa: José Cândido
Livraria Bertrand, Lisboa, Setembro de 1980
Um dia, Matilde disse-me:
«Enfadam-me
as tuas estórias. Todas poderiam ter acontecido.»
«E
isso é um defeito?», repliquei, um tanto amuado.
«Para
mim, é. Prefiro coisas inverosímeis, incomuns.»
«Mas
as coisas inverosímeis onde acontecem é na vida. A literatura tem uma lógica,
a vida tem outra.»
«Pois
experimenta misturá-las. Talvez te dê o mesmo resultado de quando se cruzam as
linhas telefónicas e nos pomos a escutar uma conversa alheia, que nos revela
insolitamente uma outra gente e um outro mundo. E, no entanto, esse mundo é o
nosso, essa gente somos nós.»
Cismei
um pedaço naquilo e, por fim, anuí:
«Vou
tentar. Depois telefono-te.»
Meses passados, disquei o número de Matilde.
2 comentários:
Luiz Pacheco topou-o bem com “O escritor chupista”
Cervejaria Trindade: uma tarde quente de 1980.
Luiz Pacheco, Serafim Ferreira, Herberto Helder, um monhé conhecido de que Pacheco nunca soube o nome. Serafim Ferreira a dizer que «plágios e gatunices era facto corrente. Também o Namora copiara frases inteiras de «Aparição» do Vergílio Ferreira e as metera no «Domingo à Tarde».
Pacheco espevitou e, por fim, iria ajustar contas com o trampolineiro do Namora. Levou meses na tarefa, chegou a pensar que o segredo iria morrer com ele.
Surpreendentemente a célula de comunas do 26 de Abril faz a sua aparição com Baptista-Bastos à cabeça. «Creio não tanto por amor do Namora mas por raiva e ódio ao Vergílio».
Pacheco acaba acusado de que o Vergílio Ferreira o comprara para denunciar o Namora.
A partir daqui a coisa complica-se.
Histórias e episódios confusos. Vergílio Ferreira acaba a falar em mais «uma patifaria do Pacheco».
Mais cervejas e cervejolas e o Pacheco a rematar:
«Para mim o crime do Namora era sem perdão. Mas o Vergílio não lhe ficava atrás como cúmplice. Foi uma verdadeira conspiração do silêncio que então arrostei, quanto mais me fechavam as portas mais eu ateimava e sabia que silenciar tanta aldrabice era cooperar com mais tramoias».
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