terça-feira, 9 de abril de 2024

OLHAR AS CAPAS


Resposta a Matilde

Fernando Namora

Capa: José Cândido

Livraria Bertrand, Lisboa, Setembro de 1980

Um dia, Matilde disse-me:

«Enfadam-me as tuas estórias. Todas poderiam ter acontecido.»

«E isso é um defeito?», repliquei, um tanto amuado.

«Para mim, é. Prefiro coisas inverosímeis, incomuns.»

«Mas as coisas inverosímeis onde acontecem é na vida. A literatura tem uma lógica, a vida tem outra.»

«Pois experimenta misturá-las. Talvez te dê o mesmo resultado de quando se cruzam as linhas telefónicas e nos pomos a escutar uma conversa alheia, que nos revela insolitamente uma outra gente e um outro mundo. E, no entanto, esse mundo é o nosso, essa gente somos nós.»

Cismei um pedaço naquilo e, por fim, anuí:

«Vou tentar. Depois telefono-te.»

Meses passados, disquei o número de Matilde.

2 comentários:

Anónimo disse...

Luiz Pacheco topou-o bem com “O escritor chupista”

Sammy, o paquete disse...


Cervejaria Trindade: uma tarde quente de 1980.
Luiz Pacheco, Serafim Ferreira, Herberto Helder, um monhé conhecido de que Pacheco nunca soube o nome. Serafim Ferreira a dizer que «plágios e gatunices era facto corrente. Também o Namora copiara frases inteiras de «Aparição» do Vergílio Ferreira e as metera no «Domingo à Tarde».
Pacheco espevitou e, por fim, iria ajustar contas com o trampolineiro do Namora. Levou meses na tarefa, chegou a pensar que o segredo iria morrer com ele.
Surpreendentemente a célula de comunas do 26 de Abril faz a sua aparição com Baptista-Bastos à cabeça. «Creio não tanto por amor do Namora mas por raiva e ódio ao Vergílio».
Pacheco acaba acusado de que o Vergílio Ferreira o comprara para denunciar o Namora.
A partir daqui a coisa complica-se.
Histórias e episódios confusos. Vergílio Ferreira acaba a falar em mais «uma patifaria do Pacheco».
Mais cervejas e cervejolas e o Pacheco a rematar:
«Para mim o crime do Namora era sem perdão. Mas o Vergílio não lhe ficava atrás como cúmplice. Foi uma verdadeira conspiração do silêncio que então arrostei, quanto mais me fechavam as portas mais eu ateimava e sabia que silenciar tanta aldrabice era cooperar com mais tramoias».