Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um desfilar de histórias, de opiniões, de
livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão
aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que
aconteceram.
7 de Abril de 1974
A LEITURA do livro de Otelo, «Alvorada em Abril»
permite recolher alguns episódios do «à vontade» com que os capitães
organizavam a data da libertação. Encontros em jardins públicos, em cafés. Otelo
passeava, de reunião em reunião, com o plano de operações, debaixo do braço, na
maior das descontrações.
Quando lhe faziam reparo quanto aos riscos que
corria, retorquia:
«É
o melhor sítio para os guardar, porque é o último sítio onde eles se lembram de
nos vir procurar».
A PIDE andava à nora e decide concentrar a vigilância sobre os movimentos de Spínola. O general poderia mover-se mas não eram os movimentos que importavam porque realizavam-se em outros quadrantes.
Não é de estranhar que Marcelo venha a dizer que
nada de concreto se sabia sobre as movimentações dos oficiais.
A coordenadora do MFA decide lançar o boato de uma
manifestação de oficiais em princípios de Maio.
Entretanto Melo Antunes acaba de redigir o Programa
do Movimento faz Forças Armadas completado por uma comissão constituída pelo
coronel Vasco Gonçalves, tenente-coronel Costa Brás, majores Vítor Alves e
Franco Charais, que será entregue à apreciação separada de Spínola e Costa
Gomes. A palavra «fascista», que aparece várias vezes no texto, incomoda Spínola que, entre outras, vai riscando a palavra.
AMÉRICO TOMÁS, assiste ao concerto de encerramento do ciclo de concertos gratuitos que nos últimos domingos eram apresentados no Teatro da Trindade. Segundo o Diário de Notícias a Banda da Armada tocou peças soltas de Rossini, Mussorgsky e Aughan Williams.
SEGUNDO O SÉCULO, Manuel Cabanas fez a
entrega da sua arte ao povo de Vila Real de Santo António, legado que inclui
inúmeros trabalhos de xilogravura de sua
autoria e um original de Cândido Portinari.
Desde a revolução de 7 de Fevereiro de 1927, Cabanas, antigo ferroviário, era
um combatente contra a ditadura: «Sou um homem do povo e é com o povo que me
identifico. A ele lego aquilo que representa grande parte da minha vida. Aos
meus sobrinhos deixo-lhes as amendoeiras, as alfarrobeiras e a terra para
suarem».
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