Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
5 de Abril de 1974
A Rádio Renascença despediu o jornalista Rui Pedro.
Em carta assinada pelo director da estação, Padre Américo Brás da Costa, é invocada como justa causa uma entrevista que Rui Pedro deu à revista Cinéfilo, na qual o jornalista tomou uma “posição de desobediência e desrespeito à entidade patronal”, causando com isso “manifesto prejuízo moral, social e material da Rádio Renascença”.
A parte da entrevista que deixou os senhores bispos completamente fora de si, refere a resposta de Rui Pedro quando lhe é perguntado o porquê de estar ao serviço dos noticiários da Rádio Renascença:
“Entricheirar-me numa estação de rádio, evitando assim que o inimigo ocupe aquele espaço de tempo.”
Tão só.
Ainda com a tal madrugada por chegar, Rui Pedro, declarava-se
disposto a colocar um pauzinho na engrenagem do regime, antevendo metas, os
grandes pequenos nadas que desbravaram os caminhos. De todos esses pequenos
nada, alguns ainda por conhecer, um dia se fará a História.
A carta da Rádio Renascença enviada a Rui Pedro:
“Atendendo a que já por várias vezes foi admoestado por transgredir as
normas disciplinares que regem o trabalho do noticiário da Rádio Renascença que
lhe foi confiado, atendendo a que veio agora a público, numa entrevista,
revelar as intenções que o levaram a introduzir-se neste serviço da estação de
rádio, manifestamente contrárias à sua directriz e disciplina, que bem conhece,
e a que publicamente declara que está na disposição de não acatar as normas e a
disciplina de que a estação não pode abdicar, tornando-se assim uma posição de
desobediência e de desrespeito à entidade patronal e causando manifesto
prejuízo moral, social e material à Rádio Renascença, o conselho de gerência,
tendo presente o artº 20 , da lei geral do contrato de trabalho, ao abrigo do
artº 101, comunica-lhe que a partir de agora fica despedido do seu lugar de
funcionário, com justa causa.”
Esta foi a Carta Aberta que a Direcção da revista Cinéfilo
enviou à Rádio Renascença.
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