segunda-feira, 22 de abril de 2024

VIAGENS POR ABRIL



 

                   Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                            João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

22 de Abril de 1974

Os jornais trazem nas suas primeiras páginas, fotografias do almoço íntimo que o chefe de estado Almirante Américo Tomás ofereceu, ontem, no Palácio Nacional de Belém do Chefe do Governo.

Sem protocolo, revestido de cunho de cordialidade, num ambiente extraordinariamente amistoso, escreveram os jornalistas. Não adiantaram os motivos do festim mas, sabe-se por portas travessas que Tomás, com esta reunião, tentou conciliar os ministros que, ouvia-se pelos corredores, andavam às turras, uns com saudades de Salazar, outros por Marcelo andava tropeçar nos próprios passos.

Olha-se a fotografia, publicada pelo ultra-fascista jornal Época, e vemo-los descontraídos e sorridentes.

Desconheciam ainda que almoçavam, todos juntos, pela última vez, tal como desconheciam que poucos dias faltavam para deixarem de sorrir.

O pânico haveria de tomar conta das suas excelsas e distintas pessoas.

O JORNAL REPÚBLICA conseguiu, numa pequena notícia, dar conta que quatrocentos democratas marcaram presença na homenagem a Óscar Lopes.

No mesmo jornal, o jornalista e escritor Álvaro Guerra, encarregado pelos capitães da ligação com a imprensa, no seu habitual Ponto Crítico, abordava a meteorologia e, se pudéssemos ter decifrado as entrelinhas, teríamos ficado a saber que o tempo ia mesmo mudar.

«A Primavera continua chuvosa, um resto de invernia que se arrasta, retardando o sol aquém, de tantos sóis adiados, se vai fartando e chegando ao Inverno da vida com um levíssimo e já frio raio de luz teimando penetrar na floresta desencantada da memória.
Naturalistas, alegóricos, nostálgicos, vamos seguindo os caprichos do clima, mitigando a ausência das palavras primaveris com a decifração de eternos boletins meteorológicos.»

OTELO SARAIVA DE CARVALHO comunica aos seus camaradas que tem pronto o Plano Geral das Operações.

DINIZ DE ALMEIDA, em Origens e Evolução do Movimento de Capitães, conta, que neste dia, «Grândola» de José Afonso foi escolhida como canção-segunda-senha para saída, em todo o país, dos regimentos afectos ao Movimento dos Capitães.

A canção foi escolhida por Almada Contreiras que, mais tarde, justificará a escolha: «em primeiro lugar, porque sou alentejano, depois porque gosto muito da canção. Se fosse minhoto, provavelmente a senha seria um “vira”, não sei».

Sem comentários: