Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um desfilar de histórias, de opiniões, de
livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo
sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
11 de Abril de 1974
Já são palavras de um certo estertor o que Marcelo
Caetano vai dizendo aos seus ministros, aos jornalistas estrangeiros que o
procuravam para cumprirem uma qualquer tarefa de propaganda.
Marcelo Caetano, em entrevista ao semanário francês Le Point, declarou
que jamais concordará com o abandono das províncias ultramarinas.
«Portugal está a lutar na África em defesa de uma sociedade multirracial e
contra os movimentos racistas que procuram expulsar os brancos de África.
Estamos a lutar em defesa do direito que têm todos os homens de viverem juntos
na África e, acima de tudo, em defesa da sociedade multirracial que lá
formámos. Pelo contrário os chamados “movimentos de libertação” são racistas. O
seu objectivo é a expulsão dos brancos. Primeiro dos postos de comendo depois
da própria África. Nunca negociaremos com os adversários de Portugal que, pagos
por potências estrangeiras, sustentam uma luta de guerrilhas inútil e cruel.»
NESTE NOSSO REINO, as colónias nunca foram uma questão pacífica. Em A
Ilustre Casa de Ramires Eça de Queiroz, coloca João Gouveia a dizer à
Senhora Dona Graça:
«Tenho horror à África. Só serve para nos dar desgostos. Boa para vender,
minha senhora! A África é como essas quintarolas, meio a monte, que a gente
herda duma tia velha, numa terra muito bruta, muito distante, onde não se
conhece ninguém, onde não se encontra sequer um estanco; só habitada por
cabreiros, e com sezões todo o ano. Boa para vender.
Gracinha enrolava lentamente nos dedos a fita do avental:
- O quê! Vender o que tanto custou a ganhar, com tantos trabalhos no mar, tanta
perda de vida e fazenda?!
- Quais trabalhos, minha senhora?? Era desembarcar ali na areia, plantar umas
cruzes de pau, atirar uns safanões aos pretos… Essas glórias de África são
balelas.»
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