Conheço o mundo dos
mortos. É frio, com terra
por cima, restos de
tábuas, ossos desfeitos pelos invernos.
Os mortos vêem-nos: de
onde estão, eles chamam pelos nomes
familiares, num
murmúrio, e o vento dispersa-lhes os sopros
— música de ciprestes.
Por isso, há quem anda entre as campas,
ao fim da tarde, com os
ouvidos tapados; quem reze,
entre lábios, datas
estéreis como as antigas pedras;
quem persiga a própria
sombra, temendo que ela desapareça
sob a erva fresca.
Memórias vagas e finais, atormentando-me
num secreto espelho —
no canto de mim, absorto
e pálido, quem me diz o
nome, em silêncio, sem olhos,
sem lábios, sem os
cabelos que outrora toquei?
Nuno Júdice em Obra Poética
Sem comentários:
Enviar um comentário