A fotografia mostra a decisão de Mário Viegas na sua Auto-PhotoBiografia (não autorizada), quando determina que o seu 25 de Abril foi de curta duração.
No dia 25 de Abril de 1974, quando o Movimento dos Capitães saiu para as rua, já os matutinos estavam em fecho de edição. Alguns ainda conseguiram colocar uma pequena notícia, a informação possível, na 1ª página, mais tarde fariam 2ª e 3ª edições. Os vespertinos tiveram mais desenvolvimento, mas só no dia seguinte, as notícias, as reportagens, os comentários conseguem um outro tipo de desenvolvimento.
Em alguns jornais poderia ler-se a frase histórica: «não terem sido visados por qualquer comissão de censura.Os acontecimentos ocorridos na
véspera são referidos: a rendição de Marcelo Caetano, a apresentação, madrugada
alta, através da RTP, da Junta Nacional de Salvação, a rendição da PIDE/DGS, a
libertação, em Caxias, dos presos políticos, a partida de Marcelo Caetano e
Américo Tomás para a Ilha da Madeira.
Aos poucos, a rotina do
quotidiano entra na normalidade.
Caminha-se para os empregos,
para as escolas, para as fábricas, os mesmos passos, os mesmos rostos, mas têm
uma outra vivacidade, um outro fulgor.
O Diário de Lisboa é o
único que puxa para a primeira página a grande notícia do dia: a libertação dos presos políticos.
No miolo da reportagem uma
pergunta óbvia, uma resposta com o seu quê daquilo que mais tarde irá
acontecer:
- O que vão fazer aos pides,
pergunta o repórter ao comandante dos páras.
- Temos que ter compaixão e humanidade para com eles, respondeu-nos o capitão.
Na página 15 do República
uma pequena, mas lamentável, notícia dá conta de que, apesar da intervenção dos
militares, não foi possível salvar muitos arquivos e documentos da Censura que
o povo lançou à rua e foram destruídos.
Aqueles documentos eram parte da
nossa história.
Estava lá nesse momento, assisti
ao crime, mas como se poderia tê-lo evitado?
Quarenta e oito anos de ódio e
repressão sobre um povo, cegam, pesam muito.
Na sua 3ª página “O
Século” noticiava que, presidida pelo engº Amaral Neto, e com a
presença de 38 deputados, reunira o plenário da Assembleia Nacional.
A sessão demorou quinze minutos
e, não mais, como Nacional, voltaria a reunir.
Também em O Século, a primeira fotografia publicada na imprensa da prisão de três pides, passos iniciais do que vai ficar a ser conhecido como a «caça ao pide.»
Num Diário de Noticias,
de que não possuímos a data, uma História de Joaquim Santos da Póvoa de Santo
Adrião:
«Exm.º Senhor Director-Geral,
Informo V. Exª que ontem, dia 25 de Abril de 1974, vários funcionários faltaram
ao serviço, invocando ter ocorrido uma revolução no País.
Esclareço que esta revolução não foi autorizada superiormente, não vendo
qualquer justificação para as faltas, tanto mais que o serviço se atrasou
consideravelmente.
Como na legislação vigente não estão previstas faltas pelo ocorrência de
revoluções, submeto o assunto ao alto critério de V. Exª, na certeza de que o
mesmo merecerá a atenção devida.
Lisboa, 26 de Abril de 1974
A Bem da Nação
O Chefe da 3ª Secção
Ambrósio Silva»
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