Eu vou-me embora para além do Tejo,
não posso mais ficar!
Já sei de cor os passos de cada dia,
na boca as mesmas palavras
batidas nos meus ouvidos...
-- Ai as desgraças humanas destas
paisagens iguais!...
Abro os olhos e não vejo
já não ando, já não oiço...
Não posso mais...
Grita-me a Vida de longe
e eu vou-me embora para além do Tejo.
Passa a ave no céu bebendo azul e
diz: Vem!
O vento envolve-me numa carícia,
envolve-me e murmura: -- Vem!
As ondas estalam nas praias e vão mar
fora,
as mãos de espuma a prender-me os
sentidos
chamam no fundo dos meus olhos: -- Vem!
-- Camaradas, eu vou, esperai um
pouco...
Ai, mas a vida nunca espera por
ninguém...
E a noite chega vingadora;
o vento rasga-me o fato,
as ondas molham-me a carne
e a ave pia misticamente no ar;
abro os olhos e não vejo,
já não ando, já não oiço
-- e fico, desgraçado de ficar!...
Manuel da Fonseca em Poemas Completos
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