Não lembro como, quando e onde, terei
comprado este exemplar dos Cadernos de Circunstâcia. Com toda a certeza foi
antes de 25 de Abril e dentro daquele espírito de que tudo o que fosse contra a
ditadura comprava e porque o meu pai sempre foi da opinião que devíamos ler tudo.
É um caderno composto a stencil.
Nas suas 70 páginas pode ler-se
uma frase lapidar de KarlaMarx: «A emancipação dos trabalhadores será a
obra dos próprios trabalhadores» e a conclusão que «só nestes termos
será possível à classe operária e aos seus aliados apoderarem-se do aparelho de
estado instituindo a ditadura do proletariado.»
José Pacheco Pereira, no seu
livro «As Armas de Papel» diz que estes cadernos eram produzidos em
França, (1967 e 1970) da responsabilidade de Aquiles Oliveira, sediados em
Arcueil.
«Era distribuída [entre 1967 e 1970] em França e nos círculos de
emigração, e enviada para Portugal através de oficiais da Marinha portuguesa
que passavam nos portos franceses (dois dos seus membros, Jorge Valadas e João
Freire, tinham pertencido à Marinha) e dos contactos dos membros do grupo com o
interior do país. Entre esses contactos contava-se José Leal Loureiro que
levava a revista para o Porto, e um conjunto de ligações de José Maria Carvalho
Ferreira que transportava a revista para o interior do país no seu ano final. Em
Lisboa, distribuíam a revista António Viegas, Artur Pais, Mário Kruger, Carlos
Miranda, Ilídio Ribeiro e João Martins Pereira. A revista penetrava também no
interior através dos contactos dos estudantes e intelectuais radicais que se
deslocaram a Paris nos anos 1968-1970.
Os Cadernos de
Circunstância foram a revista mais influente no plano
político-intelectual publicada na emigração, introduzindo nos seus textos uma
atenção analítica que não era comum, assim como uma aproximação interdisciplinar
e uma fundamentação estatística que traduzia as preocupações intelectuais dos
seus autores.
A motivação inicial da revista em 1967 resultava da insatisfação com
os moldes da oposição ao regime salazarista, quer por parte do PCP quer dos
grupos maoistas que tinham sucedido à FAP. Manuel Villaverde Cabral tinha tido
a dupla experiência de ambos e entendia que era necessária muito mais
«informação objectiva e firmeza ideológica.»
Pacheco Pereira escreve ainda
que após a chegada ao poder de Marcelo Caetano, publicaram um panfleto sobra a
queda de Salazar da cadeira em Setembro de 1968, que Álvaro Cunhal atacou os
Cadernos no seu livro contra o esquerdismo, que a revista influenciou O
Tempo e o Modo e que o grupo autodissolveu-se, sem crise nem zanga, depois
da publicação do número 7, em 1970.
Na Biblioteca da Casa apenas
existe este exemplar do 1º número dos Cadernos de Circunstância.
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