A crónica de Ana Cristina Leonardo no Público (22 de Março) intitulava-se «Galinhas, robots e tacos de basebol» e terminava assim:
«As técnicas de propaganda também não variam muito desde que o educadíssimo Goebbels as aprimorou com competência inegável. Em Portugal, o grupo étnico escolhido para ser difamado pela extrema-direita foram os ciganos. Empola-se um problema que pode ser real ou imaginário (a beleza suprema da propaganda está em – se necessário – dispensar a realidade), cria-se um inimigo responsável pela maioria dos males e apresenta-se uma solução final. E como seria de aceitação reduzida se “alguém assomasse à cena do mundo e dissesse: ‘Quero reabrir Auschwitz’”, a alternativa moderna é os “portugueses de bem” (e repare-se como as referências morais substituíram as genéticas) porem-nos na ordem – e aos que se puder, porem-nos na rua.
Face à avalanche, os democratas têm escolhido dois caminhos. O primeiro, e o de maior contributo para o avanço da extrema-direita, tem sido negar que existam problemas ou, a existirem, argumentar que podia ser pior (como se poder ser pior não fosse a condição ontológica de qualquer ser humano). O segundo é acreditar que as crenças se combatem com factos: dêem-me um fact check e eu resgatarei uma multidão de enganados!
Facto que me recordou um diálogo do filme Manhattan de Woody Allen em que, à pergunta de Isaac (interpretado por Allen) sobre se alguém sabia da manifestação neonazi em Nova Jérsia e à sua sugestão de que deviam ir lá levando consigo alguns tijolos e tacos de basebol, um conviva refere que sobre a manifestação saíra um demolidor artigo satírico no New York Times. Isaac volta à carga: “Bom, um artigo satírico no Times é uma coisa, mas tijolos e tacos de basebol vão directos ao assunto”.
Legenda: imagem de Aida Santos
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