segunda-feira, 1 de abril de 2024

VIAGENS POR ABRIL


 

         Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                  João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

 

Tenho com o 25 de Abril um sentimento que transporto do futebol: a enorme alegria pelo golo que entrou na baliza, mas, depois o adversário empata, dá a volta ao jogo e saio do estádio, acabrunhado, direito a casa, com a vontade de  estilhaçar a baixela deixada pelos antepassados.

Nunca gostei de fardas, teria preferido que a ditadura caísse com um levantamento popular, que a sua queda não tivesse na sua origem um estilo corporativista de tropa, cansada de uma guerra, inútil e odienta.

Um levantamento popular como aquele que, exemplarmente António Borges Coelho, descreve em A Revolução de 1383.

Não foi por mero capricho que a ditadura, logo que este livro saíu, o colocou fora do mercado.

Digo-vos que não é com gosto, bem pelo contrário, que, hoje reproduzo, este passo da conversa que José Saramago manteve com João Céu e Silva, tal como estou bem certo, que foi com enorme tristeza que Saramago as proferiu:

«Não estou com saudosismo da revolução, ela foi o que foi, com os seus erros e disparates mas também com as suas grandes conquistas e, principalmente, as suas grandes ilusões – enormes ilusões – que alimentam uma parate substancial dos portugueses. Isso é passado, é tão passado que eu já não comemoro o 25 de Abril. Sentir-me-ia irresponsável celebrando qualquer coisa de que eu não posso ver nenhum sinal, porque tudo o que o 25 de Abril me trouxe desapareceu e não me digam que é porque temos a democracia. Em primeiro lugar porque esta democracia – e a democracia em geral – é bastante discutível e penso que haveria de a discutir muito seriamente porque a democracia é uma espécie de santa no altar em que não se pode tocar nem dizer nada. Espanha tem a democracia e não fez nenhuma revolução, se nós em lugar da revolução tivéssemos passado por um processo de transicção como aconteceu no país vizinho estaríamos exactamente onde estamos. Aqui há anos, numa sessão organizada pela CGTP, eu atrevi-me a dizer isto e o que me chamaram naquela altura… Até o Melo Antunes disse “Esse tipo é parvo!” Por isso não me falem em 2 de Abril, a malta sai à rua com os panos a dizer “25 de Abril sempre” mas onde está ele? Digam-me por favor o que é que ficou, mas digam-me concretamente. Nada… Ficou uma data e agora só nos resta ir ao cemitério uma vez por ano pôr as flores onde entendermos que são justas.»

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