Ninguém (nem eu)
ouve a tempestade
na luz deste riso
com que vim hoje para a rua,
ó Baboef da morte dos Desiguais
- a rir, a rir, a rir,
para irritar os tiranos
como tu pedias da tua gaiola ferrugenta do Destino.
Sim, o meu filho está preso,
os nossos filhos, os nossos sonhos estão presos por
dentro dos gritos,
fechados à chave para se construir melhor o silêncio
- e eu rio.
Rio às lágrimas no Chiado
feliz
com o sol que se descarna
dos meus infernos
Rio
e escrevo nas paredes a giz:
FAZ DA TUA DOR UMA ARMA
(para sofrer menos).
Covarde.
José Gomes Ferreira em Poesia IV, Portugália
Editora, Lisboa Dezembro 1970.
Legenda: uma das cartas de José Gomes Ferreira para
Raúl José, o filho preso – 1955.
Imagem tirada de José Gomes FerreiraFotobiografia de Raúl Hestnes Ferreira, Publicações Dom Quixote, Lisboa Novembro
2001
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