Andavam Aníbal e Maria a passear o rebanho, não na
Cova de Iria, mas no Poço de Boliqueime, quando viram dois clarões como se
fossem relâmpagos. Nesse momento, viram em cima de uma azinheira uma Senhora
vestida de branco e mais brilhante do que o Sol. Que disse: "Não tenhais
medo." E Maria: "Donde é Vossemecê?" O rebanho não se
surpreendeu, já se habituara a ver Maria muito afoita de conversa. O Aníbal é
que não percebia nada, porque enquanto a prima via, ouvia e falava com a
Senhora, ele só via mas não ouvia. A primita segredou-lhe ao ouvido e então ele
virou-se para o rebanho [leitor, por favor, leia os telexes da Lusa para ver
que não é o cronista que endoidou] e disse: "Penso que a sétima avaliação
foi uma inspiração da Nossa Senhora de Fátima. É o que a minha mulher
diz." O rebanho ficou espantado: 1) porque não sabia que os primos se
tinham casado; 2) porque aquilo era a primeira aparição e não a sétima
avaliação; 3) não entendia como a Angela Merkel (os rebanhos são muito
prosaicos e o que veem, veem) se aguentava em cima da pequena azinheira. Havia
um quarto espanto: como é que o Aníbal para confirmar que pensa, diz o que a
Maria lhe diz? Mas o rebanho estava era preocupado com os cortes - em tempos de
troika, até os três pastorinhos passam a dois - e com aquele "não tenhais
medo" da gorda da azinheira que lhes cheirava a ameaça. Ruminava, o
rebanho: isto nem com o Milagre do Sol em Outubro vai lá...
Ferreira Fernandes, hoje, no Diário de Notícias.
Legenda: topo da 1ª página da edição de12 de Maio de
1967 do Novidades, jornal católico e apoiante da ditadura salazarista.
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