sexta-feira, 17 de maio de 2013

PRÉMIO PARA NUNO JÚDICE


Nuno Júdice foi galardoado com o XXII Prémio Reina Sofia de Poesia Ibero-Americana, atribuído pelo Património Nacional espanhol e pela Universidade de Salamanca, no valor de 42.100 euros.

O prémio reconhece o conjunto da obra poética de um autor vivo que, pelo seu valor literário, constitua uma contribuição relevante para o património cultural partilhado pela comunidade ibero-americana.

O júri considerou o poeta, ensaísta e ficcionista português como autor de uma poesia muito elaborada, de um classicismo depurado, mas, ao mesmo tempo, com um grande compromisso com a realidade.

No meio de tanto negritude, de tanto cinzentismo, eis uma notícia feliz.

Eu que aguardo a abertura da Feira do Livro para comprar A Implosão, publicado em Fevereiro deste ano.

Assinala-se o feliz acontecimento com um poema extraído do seu livro A Partilha dos Mitos de 1982:

Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.



 Nuno Júdice em Obra Poética (1972-1985), Quetzal Editores, Lisboa Junho 1999.   

Sem comentários: