Nuno Júdice foi galardoado com o XXII Prémio Reina
Sofia de Poesia Ibero-Americana, atribuído pelo Património Nacional espanhol e
pela Universidade de Salamanca, no valor de 42.100 euros.
O prémio reconhece o conjunto da obra poética de um
autor vivo que, pelo seu valor literário, constitua uma contribuição relevante
para o património cultural partilhado pela comunidade ibero-americana.
O júri considerou o poeta, ensaísta e ficcionista
português como autor de uma poesia muito elaborada, de um classicismo
depurado, mas, ao mesmo tempo, com um grande compromisso com a realidade.
No meio de tanto negritude, de tanto cinzentismo, eis uma notícia feliz.
Eu que aguardo a abertura da Feira do Livro para
comprar A Implosão, publicado em Fevereiro deste ano.
Assinala-se o feliz acontecimento com um poema extraído do
seu livro A Partilha dos Mitos de 1982:
Aproximei-me
de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.
Nuno Júdice em Obra Poética (1972-1985), Quetzal
Editores, Lisboa Junho 1999.
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