Quando aqui falei do Barco Negro cantado pela Amália, arrastei
o pé para dizer que a versão do Ney Matogrosso, que faz parte dum bonito disco que comprei na Discoteca Melodia, é um assombro.
Sempre fui fã de Ney e as coisas passaram a ter
outra dimensão quando o vi, ao vivo, no Coliseu.
Barco
Negro tem letra de David Mourão Ferreira e música
do brasileiro Caco Velho.
Barco Negro
acordei tremendo deitada na areia.
Mas logo os teus olhos disseram que não!
E o sol penetrou no meu coração.
Vi depois numa rocha uma cruz
e o teu barco negro dançava na luz...
Vi teu braço acenando entre as velas já soltas...
Dizem as velhas da praia que não voltas.
São loucas... são loucas!
Eu sei, meu amor, que nem chegaste a partir,
pois tudo em meu redor me diz que estás sempre comigo.
No vento que lança areia nos vidros,
na água que canta no fogo mortiço,
no calor do leito dos bancos vazios,
dentro do meu peito estás sempre comigo.
Eu sei, meu amor, que nem chegaste a partir,
pois tudo em meu redor me diz que estás sempre comigo.
A música de Caco Velho foi composta para um poema de
Piratini com o título Mãe Preta, uma canção de denúncia da
escravatura que, tanto quanto me disseram, Salazar proibiu que passasse na
rádio.
Fica aqui a letra original de Piratini e a
interpretação de Dulce Pontes:
Mãe Preta
Pele encarquilhada carapinha branca
Gandôla de renda caindo na anca
Embalando o berço do filho do sinhô
Que há pouco tempo a sinhá ganhou
Era assim que mãe preta fazia
criava todo o branco com muita alegria
Porém lá na sanzala o seu pretinho apanhava
Mãe preta mais uma lágrima enxugava
criava todo o branco com muita alegria
Porém lá na sanzala o seu pretinho apanhava
Mãe preta mais uma lágrima enxugava
Mãe preta, mãe preta
Enquanto a chibata batia no seu amor
Mãe preta embalava o filho branco do sinhô.
Mãe preta embalava o filho branco do sinhô.
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