Ontem, com 79 anos, Georges Moustaki deixou-mos.
Há muito debilitado, regressou, estrangeiro como
sempre, às suas ilhas gregas
.
Fumei
muito. Fiz tudo para que não progredisse, mas é uma doença perniciosa. É um
matador silencioso que não faz barulho. Só nos apercebemos dos seus efeitos. Já
não fumo há vinte anos. Não há justiça.
Quando em 1952, Georges Brassens lhe deu a mão,
poderia ter-se tornado cantor de intervenção, mas a sua sensibilidade levou-o a
aproximar-se dos desprotegidos mas não das ideologias. Ficou-se pela utopia,
pelo romantismo, ficou como quis e o mundo o passou a conhecer.
Uma vida apaixonante, como sempre desejou até ao dia
em que o último acto chegasse.
As mulheres puseram-no a olhar para o longe, sem
destino, fizeram-no sonhar. Não viveu com todas as mulheres com que se cruzou,
mas andou lá bem perto.
Viveu com Edith Piaf e compôs para o pardalito,
MIlord, um dos seus muitos grandes êxitos: sou apenas uma rapariguinha do cais, uma
mera sombra da rua, sente-se à minha mesa, lá fora está frio.
Perdeu-se de amores por Brigitte Bardot mas a actriz,
porque Deus criou a mulher, preferiu Vadim, olhou Carla Bruni que lhe disse que
passava as noites com ele, mas apenas porque passava as suas canções num programa
de rádio que produzia.
A todas as mulheres que lhe preencheram e embelezaram
a vida, o velho sedutor deixou Chnason pour elle: ela
não faz amor, ela ama, ela não anda, dança, ela não fala, canta, ela não se dá,
oferece-se.
Ah! e pelo nosso Abril, à boleia de Chico Buarque,
deixou um aceno de esperança para os que
não acreditando que os seus ideias possam não ser cumpridos: existe um cravo vermelho em
Portugal.
Na hora da sua morte, os que receberam, com alegria, o abraço metequiano, sabem que não é suficiente florirem cravos vermelhos.
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