A última vez que em Portugal ouvimos um artista
manifestar publicamente o seu desprezo pelo público e afirmar que se subtraía
ao seu poder de maneira soberana – e ostensiva – foi quando, na estreia de
Branca de Neve, João César Monteiro disse a uma jornalista que ousou evocar tal
entidade: “Eu quero que o público se foda”. Esta frase, quebrando com altivez despudorada
todas as regras da “bienséance”, ecoava um grito vindo de outra época, dos
primeiros modernistas, que a entoaram em coro e com violência. Podíamos referir
muitos outros – artistas, escritores – que continuam a excluir o público dos
seus cálculos, mas João César Monteiro fê-lo de maneira tão intempestiva e
explícita que atraíu a fama de membro escandaloso de uma família respeitável,
que uns vêem como um artista-filósofo e outros como uma figura um pouco
simiesca.
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