quarta-feira, 15 de maio de 2013

FADO, FÁTIMA, FUTEBOL


Em Maio de 1967 Fátima fez 50 anos.

Paulo VI, numa clara cedência à ditadura de Salazar, esteve presente nas cerimónias.

Este telegrama da ANI, publicado em A Voz de 15 de Maio de 1967, dá conta da esfuziante alegria com que, em Roma, Paulo VI falou, à multidão, sobre a visita que acabara de fazer a Fátima.

É conhecida a revolta de João Bénard da Costa, houve muitas mais, sobre a visita do Papa a Fátima:

Se me perguntarem de quando eu dato a minha saída da Igreja, respondo que do dia 13 de Maio de 1967, o dia da visita de Paulo VI a Portugal.
Esta fotografia foi publicada, no Diário de Notícias de 10 de Maio de 1967, com a seguinte legenda:

O sacrifício da mãe é compensado pela certeza de que Nossa Senhora velará pelo futuro do filho.

Um velho texto de Luis Rainha, publicado no Aspirina B:

 Fátima, um mito? Ná; eu usaria antes a palavra “fantochada”. Desculpa lá a franqueza; mas acreditar em Fátima é coisa mais grotesca do que ler o “Código da Vinci” como se fosse um tomo de História. Ou acreditar que os americanos derrubaram o WTC acolitados por uma tribo de pequenos venusianos de maus-fígados.

Fátima nem sequer foi invenção da Igreja. O mérito pertence quase por inteiro à pequena mitómana alucinada, Lúcia dos Santos. A imaginativa criança conseguiu convencer gente adulta supostamente na posse das suas capacidades intelectuais de que tinha visto as seguintes criaturas mais ou menos mitológicas: um tal de “Anjo de Portugal”, a Virgem Maria (que também fez unscameos, lá para o fim da farsa, sob os pseudónimos de Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora do Carmo), o menino Jesus em diversos estágios de crescimento e até mesmo S. José. Isto sem qualquer espécie de prova, no meio de testemunhos continuamente refeitos (recordem a historieta inicial, que dava conta de uma senhora com a saia acima do joelho, por exemplo) e, muito mais importante para qualquer cristão, servindo de veículo para uma mensagem vingativa, odienta e má; a léguas da ideia de Salvação universal que Cristo nos terá deixado.

Que raio de Deus é que exigiria a uma criança que rezasse muito, sob pena de ir parar ao Inferno? A tal “Senhora” de Fátima fê-lo. Da mesma forma, não se coibiu de endereçar esta pergunta aos três “videntes”: “quereis oferecer-vos a Nosso Senhor para aceitardes de boa vontade todos os sofrimentos que ELE vos quiser enviar, em reparação de tantos pecados com que se ofende a Divina Majestade, em desagravo das blasfémias e ultrajes feitos ao Imaculado Coração de Maria e para obter a conversão dos pecadores, que tantos caem no inferno?” Ao pé de coisas destas, até o teu satanismo faz boa figura… e o “Código da Vinci” parece um bem estruturado tratado de teologia.

E olha que a Igreja só embarcou no comboio de Fátima quando aquilo lhe cheirou a fonte de dinheiro e de poder. E, claro está, depois de já ter comprado grande parte dos terrenos circundantes.

Quanto à Opus Dei, antes se dedicasse ao satanismo e ao basquetebol (aquilo do encesto tinha a ver, não era?). Sempre era forma de se tornar em coisa mais divertida e menos manhosa.

Em Abril de 1999, o Público perguntou ao Padre Mário de Oliveira:

Fátima, futebol e fado eram os três efes que se identificavam, de certa forma, com o salazarismo. E depois de Abril, ainda é Fátima, futebol e fado.

Respondeu:

Fado, menos. Mas futebol, muito. E hoje com as sociedades anónimas, o futebol é que está a dar. Também por causa de Fátima, há elites muito interessadas em manter privilégios. Então, utilizam as suas capacidades para manter a grande maioria da nossa população sem nenhuma consciência crítica, sem capacidade de ver. Vêem, têm olhos abertos, mas não vêem nada. Como diz Saramago, “não basta olhar, é preciso ver”. É preciso que os olhos vejam as coisas e percebam o que as domina. Fátima é a grande desgraça que aconteceu em Portugal. Acho que Lúcia é a única das três crianças que sobreviveu porque era fisicamente mais resistente. É uma pessoa que tem vivido, ao longo destes anos, sequestrada pela hierarquia eclesiástica e que vive em delírio permanente. Fátima, em termos de cristianismo, é o que chamo “anticristianismo”. É o culto da mediocridade, é o culto da falta de senso, da falta de arte. De falta de beleza. Tudo o que lá se faz é a negação do que o ser humano tem de melhor. Portanto, como o cristianismo é uma força para puxar pelo ser humano, para ele dar o melhor de si próprio, Fátima é para dar o pior de si próprio.

Sem comentários: