Gigante foi a luz que acesa se estendeu
por sobre as trevas de um povo prisioneiro
Ninguém esperava que no primeiro impulso
de um movimento militar se abrissem todas as janelas
e todas as portas. Mas abriram-se e por elas
a luz e as vozes foram restituídas.
Todos agora, exército e povo, os militares e os políticos,
e quantos nunca pensaram que a política é coisa
de todos os dias ter de aprender-se a ver,
a falar e a ouvir, lá onde na caverna
só sombras de fantasmas existiam.
Todos têm de aprender a governar e a governar-se n`alma
e a fazer governo a liberdade e as vozes
e o direito de existir-se à luz do dia
como gente viva num país que é ela.
Todos têm de aprender que a liberdade não existe
apenas porque é dada, pois pode ser tirada,
ou apenas porque é conquistada, pois pode ser
licença em que não reste senão ela perder-se.
Têm de aprender que não pode ter-se num só dia
o que se perdeu em décadas. E que a Justiça
é a Liberdade que pensa mais nos outros que em si mesma.
Santa Bárbara, 28/5/74
por sobre as trevas de um povo prisioneiro
Ninguém esperava que no primeiro impulso
de um movimento militar se abrissem todas as janelas
e todas as portas. Mas abriram-se e por elas
a luz e as vozes foram restituídas.
Todos agora, exército e povo, os militares e os políticos,
e quantos nunca pensaram que a política é coisa
de todos os dias ter de aprender-se a ver,
a falar e a ouvir, lá onde na caverna
só sombras de fantasmas existiam.
Todos têm de aprender a governar e a governar-se n`alma
e a fazer governo a liberdade e as vozes
e o direito de existir-se à luz do dia
como gente viva num país que é ela.
Todos têm de aprender que a liberdade não existe
apenas porque é dada, pois pode ser tirada,
ou apenas porque é conquistada, pois pode ser
licença em que não reste senão ela perder-se.
Têm de aprender que não pode ter-se num só dia
o que se perdeu em décadas. E que a Justiça
é a Liberdade que pensa mais nos outros que em si mesma.
Santa Bárbara, 28/5/74
Jorge Sena de Poemas Políticos e Afins em 40
Anos de Servidão, Moraes Editores, Lisboa Setembro de 1982.
Legenda: fotografia de Eduardo Gageiro.
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