Conversas Com
Escritores
Inês Fonseca Santos
Capa: Inês Sena
Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa, Abril de
2017
A primeira vez que
entre em casa de Manuel António Pina, um dos escritores portugueses que mais
vezes entrevistei e visitei, e apesar de já ter então lido e relido toda a sua
obra, fiquei a conhecer não apenas o poeta mas também o homem: o amante de
gatos, o acumulador de papéis, o fumador de cigarrilhas, o leitor que preferia
poesia e ensaio a ficção.
Ciente de tudo
isto, Manuel António Pina tinha um plano secreto: reunir, num jantar os
leitores de poesia. Todos os leitores
portugueses de poesia. Achava que facilmente encontraria um restaurante onde
coubessem 200 ou 300 pessoas. Num país com cerca de dez milhões de habitantes,
num país que se diz de poetas, as tiragens dos livros de poesia oscilam entre
os 100 e os 1000 exemplares. Proliferam as pequenas editoras, é certo, mas
essas não publicam seguindo a lógica do mercado, publicam, sim, para satisfazer
a vontade de ler desses 200 ou 300 portugueses que se interessam por poesia. E,
no entanto, como bem nota Luís Quintais, «a literatura é uma província da
poesia».
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