Rómulo de Carvalho, nas suas Memórias, chega ao tempo de
contar aos seus tetranetos (pág. 294) a
Revolução de 25 de Abril de 1974.
Iremos acompanhar alguns desses passos.
E Rómulo começa a explicação, exactamente, por aquele
Decreto-Lei que vai despoletar o processo que nos conduz à tal madrugada de
Abril:
Em 13 de Julho de
1973 veio publicado no Diário do Governo (nome que então se dava ao periódico
onde o Governo publicava as suas decisões) um decreto-lei (nº 353) que introduzia
alterações ao acesso dos militares aos diversos postos das suas carreiras.
Estava-se então, e já desde 1961, em guerra nos territórios das nossas colónias
africanas, ou seja, nas províncias ultramarinas como Salazar determinou que se
chamassem para que fossem mais nossas. Angola ou Moçambique eram províncias de
Portugal como o são o Minho ou o Algarve, com a simples diferença de se
situarem noutro continente. Os povos dessas províncias de além-mar, tinham-se
revoltado, mais uma vez na sua história, contra o colonizador e, no momento a
que me estou referindo, já andávamos em guerra com eles há 12 anos.
(…)
Compreende-se que
os profissionais das forças armadas, os oficiais do chamado Quadro Permanente,
fossem para a guerra de África. Era a sua profissão. (…) As circunstâncias, porém, tornavam
insuficiente o número de oficiais de profissão, exigindo popr mobilização
forçada, a chamada de muitos outros indivíduos, para vestirem farda e
embarcarem para o Ultramar. (…) Assim
se criou um quadro de oficiais, fora do quadro permanente. Eram os oficiais
milicianos que tiveram de deixar os seus afazeres, envergaram uma farda e
seguirem para a África. A esses, o Governo procurava por todos os modos,
despertar o brio profissional.
O referido decreto
353 destinava-se exactamente a cativar os desinteressados oficiais milicianos
proporcionando-lhes vantagens que obviamente irritaram os oficiais de
profissão, vantagens de promoção e de remuneração que até poderiam vir a
permitir que um miliciano se sobrepusesse a um profissional.
Rómulo de Carvalho em Memórias
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