Trabalha agora na
importação e exportação. Importa
metáforas, exporta
alegorias. Podia ser um trabalhador por conta própria,
um desses que
preenche cadernos de folha azul com números
de deve e haver. De
facto, o que não deve são palavras; e o que tem
é esse vazio de
frases que lhe acontece quando se encosta
ao vidro, no
inverno, e a chuva cai do outro lado. Então, pensa
que poderia
importar o sol e exportar as nuvens. Poderia ser
um trabalhador do
tempo. Mas, de certo modo, a sua
prática confunde-se
com a de um escultor do movimento. Fere,
com a pedra do
instante, o que passa a caminho da eternidade;
suspende o gesto
que sonha o céu; e fixa, na dureza da noite,
o bater de asas, o
azul, a sábia interrupção da morte.
Nuno Júdice
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