Carta de António José
Saraiva para Óscar Lopes, datada de Amsterdão, Janeiro de 1972, e em que
continua a manifestar o seu encantamento pela obra de Agustina Bessa-Luís.
Antes já dissera que relendo algumas páginas de Agustina ficara tonto «como se ouvisse música de Beethoven.»
Quanto à Agustina
gostaria que me desses as tuas razões Eu considero-a com Fernando Pessoa um dos
dois escritores verdadeiramente geniais que Portugal produziu no século XX, e
creio que todos os outros estão muito, mas muito baixo deles. Mais: para mim a
Agustina é o maior escritor em prosa de toda a literatura portuguesa, talvez
com excepção do Fernão Lopes (na parte em que este pode ser considerado como
artista criador, como o João de Barros nunca foi). Eu não consigo ler a
Agustina durante muito tempo porque não suporto a vertigem, e o mesmo me
acontece com o Pessoa. Não entendo como a poder pôr abaixo do Aquilino. É um
dos raríssimos pontos em que estou quase de acordo com o Sena: o Aquilino é um
grande escritor menor, salvo no Malhadinhas e nas Terras do demo. É um artífice
com muito talento, ao passo que a Agustina e o Pessoa são escritores-mediuns. Tem-se vontade de crer que algo
a que chamaríamos Espírito os tocou, e nos toca para eles.
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