Agosto chega ao fim.
Como dizia o meu pai:
«amanhã voltamos a ser gente».
Férias em Agosto, só
lembro de as ter enquanto miúdo.
Quando comecei a
trabalhar nunca escolhi o mês de Agosto para férias.
Os colegas
agradeciam.
No entretento voltei
a ouvir falar em livros para férias.
Ah! livros para
férias!
Não há livros para
férias, há livros para todo um ano.
Ler dá trabalho, é
certo.
O destino dos
livros para férias é regressarem a casa cheios de areia e não lidos.
Não é, porém, por
falta de tempo que não se lê.
Agustina Bessa
Luís, no seu Caderno
de Significados, diz o que fazer com os livros para férias,
ela, que a páginas 49, declarou que não gosta de férias:
«Um livro para férias não deve ser escolhido. O que se
escolhe serve à personalidade, e as férias são o pretexto para sermos
impessoais, fazer o que muitos fazem, ir para onde muitos vão. Pegue num livro
que não pese mais de 200 gramas e leve-o consigo. Leia três páginas, esqueça-o
na gare ou no banco das termas, na praia ou no restaurante, e aí, sobretudo, aí
tenha a certeza que é o bom livro para férias; se você não tiver pena de o ter perdido».
Camilo Castelo Branco deixou escrito:
«A poderosa razão que o lavrador Roberto Rodrigues opunha para não mandar ensinar a ler o filho, era - que ele pai também não sabia ler, e mais arranjava
lindamente a sua vida. Esta vinha a ser a razão capital, reforçada por outras subalternas e praticamente bastante persuasivas.
- Se o rapaz souber ler – argumentava triunfantemente o idiota – assim que chegar a idade, às duas por três, fazem-no jurado, regedor, camarista, juiz ordinário, juiz de paz, juiz eleito. São favas contadas. Depois, enquanto ele vai à audiência ou à Camara, a Cabeçais, daqui uma légua, os criados e os jornaleiros ferram-se
a dormir a sesta de cangalhas à sombra dos carvalhos, e o arado fica também a dormir no rego. E ademais, isto de saber ler é meio caminho andado para asno e
vadio. E citava exemplos, personalizando meia dúzia de brejeiros que sabiam ler e eram mais asnos e vadios que os analfabetos.»
Terão razão os que dizem que não se vive para ler, lê-se somente para melhor viver?
Mas, agora, gostava de dizer que, durante muitos tempos
de férias, havia um livro que ia sempre comigo: Cem Anos de Solidão do Gabriel Garcia Márquez.
Pegava-lhe sempre e ao acaso ia relendo esse livro
fantástico centrado na imaginária
terra de Macondo e das sete gerações da família Buendía, uma autêntica pérola
do realismo mágico.
«Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento,
o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu
pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas
de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se
precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos
pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e
para mencioná-las se precisava apontar com o dedo. Todos os anos, pelo mês de
março, uma família de ciganos esfarrapados plantava a sua tenda perto da aldeia
e, com um grande alvoroço de apitos e tambores, dava a conhecer os novos
inventos.»
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